Das cozinhas para a televisão. Da televisão para as cozinhas. O chef Rivandro França, pernambucano de nascença, se divide entre as duas funções para cumprir, brilhantemente, o seu propósito maior: exaltar a cultura e a gastronomia do Nordeste, com todas as potências e riquezas da região. Uma bandeira que traz benefícios para diversos setores do estado e revela a importância da representação das comidas típicas como uma forma de identidade regional.
É com essa missão que Rivandro, um talento lapidado com o apoio da família e com muita força de vontade, conduz um trabalho gastronômico premiado, com raízes fincadas nas memórias afetivas da sua infância, e hoje, com simplicidade, simpatia e talento, tanto para cozinhar, quanto para comunicar, pode ser visto semanalmente no programa Sabor da Gente, exibido pela TV Jornal, filial do SBT.
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Quem é Rivandro
Rivandro é filho de um casal de paraibanos, Luzinete e Ricardo França, que há 50 anos saíram de sua cidade natal e seguiram para a Terra dos Altos Coqueiros, Pernambuco, em busca de melhores condições de vida. E, felizmente, conseguiram. O chef, inclusive, já nasceu na capital do estado, Recife, mas passou boa parte da infância na cidade vizinha, Olinda, um dos mais importantes centros culturais de Pernambuco.
Nas ladeiras da cidade histórica, Rivandro revela que cresceu vendo o pai, que era cozinheiro, trabalhar diariamente para alimentar os sonhos da família. Uma lição aprendida pelo herdeiro. “Sou um cozinheiro que não nasci para ser o melhor, mas para fazer a diferença. Acredito nos sonhos e, como pessoa, desistir não faz parte da minha vida. Posso dizer que essa é uma das minhas marcas: nunca desisto de sonhar, corro atrás do que me faz feliz”, diz ele, que aos 44 anos está casado com uma enfermeira e é o orgulhoso pai de dois filhos, Rhaldney e Thâmara França.
Relação com a gastronomia
Ainda menino, a gastronomia entrou na vida de Rivandro, já que o seu pai o aproximou desse universo através do exemplo diário. “Cozinha para mim sempre foi uma inspiração. Servir é um ato de amor”, conta. Ele, porém, iniciou a vida profissional trabalhando como técnico de enfermagem, aos 18 anos, função que exerceu por quase duas décadas. Mas nem durante esse período o encantamento pela gastronomia ficou de lado. De forma amadora, Rivandro estava sempre próximo da cozinha.
Em 2008 decidiu transformar a paixão em algo mais sério: ele entrou para a faculdade de gastronomia. “Isso, claro, abriu meus horizontes. Mas posso dizer, sem dúvidas, que meu maior aprendizado veio das idas e vindas aos mercados e feiras livres que desde pequeno frequentava, acompanhando o meu pai. Daí vem essa paixão pela cultura e gastronomia nordestina, que é riquíssima em cores, sabores e texturas”, explica.
Trajetória profissional
“A cozinha sempre me encantou. Mesmo quando estava trabalhando na enfermagem, arrumada um tempo para fazer e vender bolos, tapiocas… comidas simples, regionais. Ainda em 2008, na faculdade de gastronomia, comecei a vender bombons de chocolate no próprio campus e em hospitais”, relembra.
Foi nesse período que Rivandro começou a acompanhar o trabalho do chef Wanderson Medeiros, do tradicional restaurante Picuí, que ficou conhecido no Brasil e no exterior por apresentar um estilo gastronômico que mescla ingredientes do Nordeste com toques de sofisticação. “Esse contato foi uma das mais importantes inspirações da minha carreira, definiu o meu futuro. Larguei a enfermagem, comecei a vender os bombons e, em seguida, abri uma casa, inicialmente, com apenas 35 lugares, para fazer comida regional e valorizar cada vez mais a cultura nordestina”, conta o chef, se referindo ao restaurante Cozinhando Escondidinho, localizado no bairro de Casa Amarela, no Recife.
Foi à frente do estabelecimento, inclusive, que Rivandro conquistou o público e o reconhecimento na área, recebendo importantes prêmios, como o de Chef Revelação 2013, pelo Guia Brasil, e o de melhor Chef de Pernambuco, pelo Prêmio Nacional Dólmã 2016, entre outros. “Também tive o prazer de ser embaixador da gastronomia do país, entre outras honrarias. Mas sempre foquei na cozinha. Sou cozinheiro e amo o que faço. Minha missão, que é valorizar a gastronomia nordestina, continua. Isso é muito evidente no meu trabalho, tanto que, justamente por essa defesa cultural, novas oportunidades foram surgindo, até que cheguei onde hoje estou: entre a cozinha e a TV, apresentando um programa semanal”, diz.
Estilo culinário
Para Rivandro, é importantíssimo manter uma gastronomia firmemente fincada em suas raízes culturais, preservando tradições. Porém, ainda assim, o chef não deixa de olhar para o futuro. É essa mistura que faz da sua cozinha uma experiência lúdica entre o tradicional e a possibilidade de desfrutar de novas texturas, aromas e cores.
“Para mim, também é muito importante manter viva a cultura das feiras e dos mercados para um público que adora comer bem, em um lugar aconchegante e com preço justo. É isso o que busco”, conta ele, que traz muito viva na memória a lembrança das suas idas às feiras livres, ainda na infância. As cores das bancas, as vozes dos feirantes se esforçando para conquistar os compradores, os aromas, os cartazes que anunciavam as promoções… Tudo isso impregnou no menino de forma definitiva, o inspirando e definindo o tipo de cozinha que defenderia em sua caminhada.
Rotina como chef apresentador
“Sempre tive uma visão muito clara que uma oportunidade pode não bater duas vezes em sua porta. Então, cada matéria de jornal, revista ou TV que participava, representava para mim uma forma de mostrar meu trabalho e manter os meus sonhos vivos. Nessas participações na TV, as pessoas sempre me elogiavam por não ter vergonha e por falar tudo o que podia no menor tempo possível”, o chef começa explicando.
Com toda essa desenvoltura diante das câmeras, em 2016 Rivandro teve sua primeira grande experiência na televisão, ao apresentar, por um ano, um reality show culinário intitulado “O que tem para hoje”, uma disputa entre alunos de gastronomia que era exibida na TV Jornal Recife, filial do SBT em Pernambuco, com direção e produção da Asfora Filmes, de Rodrigo Asfora e Thaís Cintra.
Alguns anos se passaram até que o mundo foi surpreendido pela pandemia. Nesse período que tudo passou por readaptações, Rivandro foi chamado para fazer lives para a TV Jornal, uma vez por semana. “Com dois meses fiz um piloto para a TV. Em alguns dias veio o convite para assumir um programa na emissora. Um desafio que me fez muito feliz por poder levar para a tela tudo o que vivi na infância, entre feiras, mercados e ingredientes”, diz ele, se referindo ao Sabor da Gente, um programa culinário que apresenta receitas, dicas de gastronomia, restaurantes e tudo o que acontece de melhor na culinária nordestina.
A rotina como chef e apresentador, que o tornou bastante popular entre os pernambucanos, não é algo que deslumbre Rivandro. “Costumo dizer que sei de onde vim e sei para onde quero ir, então acordo todos os dias querendo ser cada vez mais um bom cozinheiro. Entendo que, como fruto do meu trabalho, vem a ‘fama’ e o ‘status de celebridade’, mas tenho o pé no chão, sei que a estrela de tudo é a comida e as pessoas que comem, que me emprestam suas histórias para que eu possa transformá-las em sabores. Fico muito feliz em ser reconhecido nos lugares, fazer fotos, distribuir abraços e saber que essa visibilidade amplia minha voz para que eu mostre que a cultura nordestina é forte e tem que ser cada vez mais valorizada”, conta.
Planos para o futuro
Rivandro enxerga a oportunidade de cozinhar como uma forma de mudar vidas e alimentar sonhos. Então, está sempre em movimento. Ainda em 2022, no mês de dezembro, ele deve inaugurar uma casa especializada em cuscuz, batizada de Cuscuz com Q. “Também pretendo voltar às atividades que desenvolvia na Bodega do Riva, tudo sempre com o pezinho no chão, com força, foco e fé”, diz.
Pandemia
Apesar de ter conquistado grandes projetos durante a pandemia da Covid-19, o chef explica que precisou lidar com importantes baixas. “Não posso reclamar do que aconteceu comigo durante a pandemia, foi nesse período que surgiu a oportunidade de apresentar um programa de TV, algo que me rendeu também a apresentação de um quadro na Rádio Jornal, aos sábados, intitulado Feira da Super Manhã. Por outro lado, também precisei fechar meu restaurante, tive muitos prejuízos. De qualquer forma, gosto de focar no aprendizado que tive como pessoa e profissional durante a pandemia, uma evolução que tem feito a diferença nos dias de hoje”.
Visão de mercado
O chef enxerga o mercado gastronômico brasileiro com as melhores expectativas possíveis. Mas nessa área, segundo ele, ainda há muita coisa para melhorar. A distribuição de riquezas e o maior incentivo à base da pirâmide produtiva são algumas delas. “É preciso que todos coloquem em prática aquela filosofia bonita que vemos nas redes sociais; que todos, por exemplo, cheguem mais junto do pequeno produtor, que muitas vezes não são valorizados como deveriam, mas são pessoas com sonhos, interessadas no sustento honesto de suas famílias. Ações assim são capazes de impulsionar o crescimento e a evolução de toda a cadeia produtiva”, diz.
Dica de chef
Aqui, o chef é taxativo. “Valorize sua cultura, aprenda tudo da cozinha brasileira para depois desbravar outras cozinhas, se assim tiver interesse. Trabalhe e desenvolva seus projetos procurando fazer a diferença na vida das pessoas. Com isso, tenha certeza que coisas grandiosas irão surgir”, finaliza.
