Meus caros amigos, cá estamos, diante de 2021, que possivelmente seja o ano mais difícil de se projetar nas últimas duas décadas pelo menos.
Em parte, por que ainda há muita incerteza sobre como a COVID-19 evoluirá ou regredirá, quando teremos vacinas, como o consumidor se comportará, e assim por diante.
Em parte, porque não há um ponto de partida e de comparação claro para as previsões: não deve ser o 2020, mas também não é claro que deva ser o 2019; pode ser um híbrido entre ambos, ou algo diferente disso?
Vou colocar a seguir minha sugestão, mas, para isso, queria fazer uma pequena viagem pelo 2020 para formar a opinião a visão para 2021.
Primeiro ponto é entender que no início deste ano, a visão geral do mercado apontava para um crescimento (real) do Foodservice perto de 5% neste ano, também se esperando um crescimento nesta casa para os 2 anos seguintes.
Num cenário de crescimento deste, lembrando que já vínhamos de alguma recuperação discreta em 2018 e 2019, a grande parte das empresas deste mercado (indústria, canais de abastecimento, operadores e outros) tinham em suas mesas planos de expansão, de crescimento, de diversificação, de investimentos. Um quadro que não era de euforia, mas de um otimismo bem calibrado e seguro para buscar aumentar o negócio e sua participação de mercado.
Citando algumas variáveis conjunturais, o pano de fundo era um crescimento no PIB acima de 2%, mais de 94 milhões de brasileiros ocupados e previsão de o rendimento do brasileiro crescer mais de 2% em média.
Mas, vem a pandemia e, em apenas 2 meses, esse quadro vira algo mas ou menos assim: PIB vai cair 5% em 2020 (e é o que se aponta ainda hoje), a população ocupada cai para 89 milhões de brasileiros e agora já é perto de 82 milhões e a renda já cai também para o campo do negativo.
Além disso, os operadores de Foodservice passam a lidar com inúmeros agravantes específicos deste mercado e “empurram” para a cadeia toda de valor impactos enormes. Só lembrando alguns destes agravantes:
Mercados fechados por períodos longos (BH por exemplo ficou 5 meses fechado!)
Retrocesso de reaberturas em algumas praças, como no Sul do País
Prazos enormes de aplicação protocolos de operação, com grandes limitações
“Asfixia” de caixa, recursos e times reduzidos
Consumidor marcado por insegurança e desconfiança
A soma de tudo – sejam fatores conjunturais ou específicos – levam o Foodservice para uma queda inédita de 35 a 36% em 2020, comparado a 2019. Em termos reais, algo como 32% de queda. Para situar: esta queda é 10 vezes maior do que a maior queda vivida até então neste mercado no Brasil, que ocorreu em 2015, quando o mercado regrediu 3%!
Diante disso tudo, como pensar o 2021? Temos 2 dicas importantes, a seguir.
Em primeiro lugar, não se esforce para estimar quando o 2021 será maior do que 2020! A menos que você acredite que em 2021 possa haver meses absolutamente trágicos para o mercado e a sociedade, como foram os meses de março-abril até agosto-setembro de 2020.
Digo isso, porque a maior parte da queda de 2020 foi este período de aproximadamente meio ano, quando, condicionado pelo que já citamos acima, o mercado navegou em patamares críticos versus o passado e que não servem de comparação.
Explicando em números: entre março e setembro, o mercado funcionou em 2020 em patamares médios 52% abaixo de 2019. Enquanto que, nos meses de janeiro, fevereiro, outubro, novembro e dezembro, esta média foi apenas 8% abaixo de 2019.
Ou seja, esqueça o 32% de queda real.
E, assim, em segundo lugar, nossa indicação para pensar em 2021 é: parta de como está o mercado e o negócio agora, fechamento de 2020.
Considere elementos como o novembro e dezembro de 2020 como ponto de partida: o mercado está entre 10 e 20% abaixo de 2019, dependendo da região.
Ou, se quiser ser um pouco mais otimista, considere aquela média dos “meses bons” de 2020, que mostra 8% de retração de 2020 x 2019, puxada pelos últimos meses.
Aí, considere que o pano de fundo para 2021 é um PIB que crescerá acima de 3%, uma recuperação parcial do número de brasileiros ocupados (ao menos, uns 6 milhões), entre estabilidade e pequena recuperação na renda, um restabelecimento gradual do trabalho presencial, dos índices de confiança do consumidor e dos empresários, entre outros, isso “empurrará” para o Foodservice um crescimento de 3 a 5% no ano que vem.
Resumo: se partirmos de um dezembro próximo de 15% abaixo de 2019 considerarmos um 3 a 5% sobre esta base, estamos falando que o ano de 2021 deverá ser aproximadamente 88 ou 89% do que foi o ano de 2019.
O 1º trimestre, provavelmente ainda mais complexo de se estimar, por conta do quadro da pandemia, vacina, etc, mas, a partir de então, num ritmo de normalização.
Ano sensacional? Não, de forma nenhuma.
Na média, cenário de recuperação e retomada.
Oportunidade para ir muito além do mercado, para muita gente competente e atenta!
Ótimo 2020 para todos!
Sobre o autor
Natural de São Paulo, Capital, Molinari é fundador da Food Consulting, Conselheiro, Consultor, Mentor, Pesquisador, Produtor de conteúdo, Professor e Palestrante, com 40 anos de significativa experiência no segmento de alimentação fora do lar no país. Formado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC–SP), é um dos mais renomados profissionais do Food Service na atualidade.