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Dani Johnnei: uma chef que cozinha, acolhe e empreende

Entrevista Exclusiva para a Editoria Vida de Chef da Rede Food Service

ChefDani3
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Acolher. É isso o que a chef Danielle Johnnei faz de melhor. Conhecida, popularmente, como Dani, é dela o tempero que há quatros anos encanta os clientes da Trattoria DaDani, casa de culinária italiana localizada no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, capital de Pernambuco.

 

Dani também ganhou notoriedade no cenário pernambucano ao promover seus jantares secretos, uma experiência gastronômica pensada nos mínimos detalhes para se tornar um verdadeiro espetáculo para os clientes.

 

Quem é a chef Dani

 

Com suas origens e raízes fortemente fincadas no Nordeste, essa recifense de 39 anos, mãe de um menino e em um relacionamento sério, nas horas vagas – bem raras, segundo ela –,gosta de ir ao cinema, sair para beber, comer ou viajar, nem que seja para um local próximo de sua casa. “Eu amo praia, embora quase nunca entre no mar”, revela, divertindo-se.

 

Foto @laramoradigital

 

Comunicativa, Dani avisa que sempre gostou de receber. “Sempre estabeleci minhas ligações baseadas no acolhimento. Isso sempre esteve presente nas minhas reuniões com amigos e família. Receber é algo amplo, passa pelo ambiente, pelo que você serve e como serve, pela bebida, pela composição do espaço e das comidas… Tudo isso já era algo meu; com o tempo, tornou-se minha expertise profissional”, diz.

 

Algo, provavelmente, herdado dos exemplos femininos que Dani teve em casa. Segundo ela, a mãe nunca foi uma cozinheira de mão cheia, porém, costumava criar uma onda de afeto em torno das refeições, tornando esse momento quase um ritual. A ex-madrasta é outra mulher que através de atos mostrou a Dani como cozinhar pode ser um ato de amor e envolvimento. “Minha ex-madrasta atua como médica, então quase não tinha tempo de cozinhar, mas quando podia, era uma festa. Ela colecionava receitas. Havia preparação, expectativa, carinho nos gestos. Tudo isso transformava o momento em um espetáculo”, relembra.

 

Foto: @trattoriadadani

 

Dani não veio de uma família abastada financeiramente. “Nada nos faltava, mas também não sobrava”, diz. Ela explica, por exemplo, que a família podia sair para comer, mas que a escolha sempre era por restaurantes modestos, de bairros. Sem muitos requintes ou  grandes inovações gastronômicas, mas com sabores honestos e conforto para os frequentadores.

 

Não há como negar que todos esses detalhes ajudaram a construir a personalidade da cozinheira, que tem orgulho em ressaltar que o ‘raio gourmetizador’ não descaracterizou sua cozinha, que segue acolhedora, segura e saborosa.

 

Formação

 

Dani é formada em hotelaria pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com  pós graduação em logística. Dois cursos que à primeira vista podem parecer distantes do universo da gastronomia. “Eu sempre tive dúvidas sobre qual profissão seguir. Pensei em ser arquiteta, também em ser estilista. Durante a indecisão, me dirigi para hotelaria”, explica.

 

Foto: @trattoriadadani

 

Foi dentro do curso, numa disciplina chamada A&B, que aborda a área de alimentos e bebidas, que Dani despertou para a possibilidade de transformar o prazer em receber pessoas em um caminho profissional. Na disciplina, ela aprendeu sobre planejamento, organização e controle dos serviços de restaurantes, bares, buffets e tudo o que envolve alimentação e bebidas. “Esse setor me  deslumbra. E não só necessariamente a cozinha, mas sim o conjunto, tudo o que ele envolve. Não dá para acolher sem gestão, cozinhar sem se preocupar com o operacional”.

 

Ainda na faculdade, conseguiu um emprego como atendente de salão de restaurante. O que a aproximou ainda mais da gastronomia, técnicas e execuções, além do processo de gestão. Nessa função, começou a se destacar. “Eu conseguia entender os clientes, perceber o que desejavam. E isso tinha reflexo nas vendas. Mas não imaginava até então que levar acolhimento para mesas dos clientes, algo natural para mim, se transformaria no meu plus”.

 

Logo depois, Dani conseguiu um emprego como hostess, uma função, na época, nova no mercado. “Não havia esse profissional destacado especialmente para recepcionar os clientes, era uma coisa nova. Até então, no máximo, havia um garçom perto da porta. Eu fui a segunda ou terceira hostess do Recife e me orgulho disso. Sem falsa modéstia, eu era boa, fazia bem a leitura do cliente. O que passava pelo direcionamento da mesa, sugestão dos pratos, harmonização das bebidas… tudo para garantir a melhor experiência possível”, diz ela, garantindo que uma boa experiência vai muito além do beber e comer.

 

Trajetória e empreendedorismo

 

Depois de passar por casas consagradas, como o Pomodoro Café, Dani decidiu abrir sua própria empresa, a Recevoir, que em português significa ‘receber’; apostando em um negócio que aliava todas as suas grandes paixões: cozinha, gestão e o ato de receber. “Nosso foco era o catering com serviço completo. Era minha responsabilidade pensar na comida, na montagem da mesa, na escolha das flores, nos cheiros do ambiente… Sempre fui enxerida, lembro que mexia em tudo, até na luz do lavabo, na disposição dos móveis”, diverte-se.

 

Foto: @trattoriadadani

 

Deu certo. A Recevoir, inclusive, foi uma das pioneiras em Pernambuco no serviço de finger food. O que era para ser, inicialmente, algo pequeno, feito para atender eventos reduzidos, foi ganhando fama, lotando a agenda e expandindo as fronteiras. “Começamos com pequenas reuniões, logo passamos para eventos maiores, como casamentos, bodas, coquetéis, formaturas… ainda assim havia meu toque em todas as etapas”.

 

O problema, de acordo com Dani, é que todo o negócio estava baseado na sua persona, o que demandava presença física e envolvimento emocional constantes. A rotina começou a pesar. “Eu não apenas cozinhava. A empresa demandava atenção em diversas outras áreas, como no planejamento de compras, na estratégia de comunicação, na gestão da equipe. É trabalhar o negócio de ponta a ponta. Eu era a primeira a chegar e a última a sair”, conta.

 

Prato Riso nero di mare da Chef Dani – Foto: @laramoradigital

 

Da necessidade de ter uma rotina um pouco mais previsível e mais qualidade de vida, nasceu o projeto do restaurante. A Trattoria DaDani, uma casa de culinária italiana como base. “Eu queria ter uma vida profissional mais previsível. Com o restaurante, a ideia era conquistar isso. Sem falar nos benefícios de ter uma equipe fixa, com um estoque à disposição, um gerente para me auxiliar. Foi o melhor caminho para uma vida mais saudável”.

 

E se engana quem pensa que com o restaurante o serviço deixou de ser menos personalizado. Dani segue na cozinha e no salão. É dela a assinatura de praticamente todo o cardápio da casa. Ela também mantém o hábito de receber os clientes com afetuosidade, cumprimentando e  garantindo uma boa experiência para todos. “Meu rosto segue sendo a vitrine do negócio. E o acolhimento é nosso grande diferencial. Não sei fazer diferente”, afirma.

 

Na Trattoria, segundo Dani, é servida uma comida segura e acolhedora, sem grandes inovações, mas com a certeza de uma boa experiência. “Temos uma base de sabor muito potente, que não se preocupa muito com modas. Não é nosso objetivo ter uma cozinha de inovação. Adoro quando os clientes falam que vêm sempre ao restaurante porque sabem que funciona”, diz Dani, que deseja continuar se especializando na gastronomia.

 

Porção de Arancini de tomate com aioli e manjericão da Chef Dani – Foto: @laramoradigital

 

Dentro do restaurante, a chef toca dois projetos. O primeiro é o Jantar Secreto, realizado a cada dois meses, aproximadamente. Nele, a casa funciona exclusivamente sob reserva, com um menu fechado secreto, para cerca de 45 pessoas. “E é secreto mesmo. Não é que os clientes chegam e já encontram um cardápio com os pratos por escrito. Eles só descobrem o que vão comer com o passar das etapas, quando os pratos são servidos”, diz. A experiência vira um verdadeiro espetáculo, com alta procura por parte dos clientes. “O que poderia assustar, agrega”, completa Dani.

 

O segundo projeto é a Quarta-feira de Massa Fresca. Realizada uma vez por mês, a ação também foi pensada para promover um show que encanta todos os sentidos dos clientes. No projeto especial, são servidos três pratos principais com massa fresca, que é aberta na hora, na frente dos clientes, em um balcão exposto. “São noites atípicas, singulares e os clientes amam todo o espetáculo. Nesses momentos, também busco incluir uma entrada ou sobremesa diferente e a festa está garantida”, diz.

 

Desafios e planos para um futuro próximo

 

Dani gosta de ressaltar que se um prato tem uma base bem feita, ele, naturalmente, será gostoso e acolhedor. E é isso o que ela busca na cozinha. Com essa filosofia, apesar das dificuldades naturais do empreendimento e das incertezas trazidas pela pandemia, a Trattoria DaDani segue fazendo sucesso, conquistando admiradores e mantendo uma clientela fiel.

 

Foto @laramoradigital

 

“A Covid-19 desajustou nossos planos para algo além dos dois anos de pandemia. Aqui, na Trattoria, tudo indica que terá reflexo por mais uns dois anos. Mas também trouxe pontos positivos. Ganhei resiliência. Chef não é profissão, é cargo. É minha tarefa ser uma boa líder para a equipe. Estamos caminhando bem. Todos remam comigo e juntos vamos chegar”, diz.

 

Positiva, Dani se prepara para abrir, em meados de novembro deste ano, um novo espaço gastronômico, o Trattoria Al Mare, especializado em culinária mediterrânea. A casa ficará  localizada em um pátio em frente à primeira casa, com a promessa de um cardápio colorido,repleto de ingredientes leves e versáteis, como peixes, frutos do mar, grãos, vegetais, frutas e azeites. O acolhimento tão característico da cozinha de Dani, claro, também está garantido.

 

Visão de mercado

 

Para Dani, falar sobre o mercado nesse período pós-pandemia ainda é difícil. “Tudo o que tínhamos de previsibilidade foi por água abaixo. Para alguns restaurantes a retomada iniciou antes, mas só comecei a sentir melhora no fluxo de clientes há cerca de quatro meses. Se é uma crescente ou se ainda teremos oscilações, só o tempo dirá”, explica.

 

Mas segundo ela as incertezas não são motivos para desanimo. É hora de trabalhar e se reinventar. “É perceber o que o seu público deseja e fazer o melhor possível. Nossa clientela, por exemplo, gosta da tradição com uma pitada de novidade. Nossa tarefa é se equilibrar na linha entre esses dois extremos para conquistar alguma segurança e seguir”, diz.

 

Dica da chef empreendedora

 

Segundo Dani, empreender no setor de alimentação fora do lar pode ser complicado para quem está começando. Para a chef, a dica para melhorar os acertos e fisgar de vez os clientes é estudar, conversar, escutar e acolher, sempre filtrando as ideias. Isso possibilita uma gestão orgânica. “Estar ao lado dos funcionários também é extremamente importante. Isso cria uma liderança sem grandes barreiras, forte e ao mesmo tempo acessível”.

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