Despretensioso, simples e gostoso… um boteco com alma. É assim que o Bar do Luiz Fernandes (BDL), um dos mais tradicionais da Zona Norte de São Paulo, é conhecido entre o público. Desde 1970, gerações de clientes brindam e petiscam por lá, fazendo do bar um ponto de encontro para quem valoriza bons sabores e boas histórias.

 

Mas a trajetória do BDL vai muito além das mesas cheias e dos copos erguidos. A história do negócio é mais antiga, começa décadas antes do bar; antes mesmo do Luiz que dá nome ao empreendimento. E merece ser conhecida.

 

Nesta matéria, mergulhamos nas origens do negócio, exploramos os segredos do cardápio – dos petiscos icônicos aos drinques tradicionais que até hoje fazem sucesso –, conhecemos a visão de mercado por trás do boteco e descobrimos quais são os planos para o futuro. Além disso, revelamos as estratégias que mantêm o BDL sempre relevante, conquistando novos clientes sem perder sua essência. Afinal, tradição e inovação podem andar juntas – e aqui, elas brindam lado a lado.

 

Foi assim que começou

 

De acordo com as irmãs Carol e Clara Mazetto, ambas atualmente na diretoria geral do Bar do Luiz Fernandes, as origens do estabelecimento surgiram em 1930, época em que Eduardo Fernandes e sua esposa Idalina, os pais do Seu Luiz, comandavam um pequeno negócio local, na Rua Augusto Tolle, em São Paulo. “Era uma venda de secos e molhados que vendia leite, conservas e outros produtos nacionais e estrangeiros”, explicam.

 

 

Mas a chegada de um grande supermercado na área abalou a mercearia, levando o pequeno negócio para o caminho da falência. “Foi aí que Dona Idalina teve a ideia de fritar alguns bolinhos e vender batidas na casa. Foi nesse momento, em 1970, que a venda migrou oficialmente para o Bar do Luiz Fernandes”, relembram as irmãs.

 

Uma estratégia e tanto! O inigualável bolinho de carne salvou o negócio familiar, ficando famoso através do marketing boca a boca. “Todos na região ouviam falar, pegavam para viagem ou consumiam ali mesmo, de pé, entre um bate papo e outro”.

 

 

Carol e Clara Mazetto, que já representam a quarta geração da família Fernandes à frente do negócio, reforçam que tradição e família são valores que permanecem até hoje na empresa. Tanto que a casa principal do bar segue localizada na rua Augusto Tolle, 610, Mandaqui.

 

Mas, mesmo mantendo suas raízes, o negócio cresceu. Hoje, o BDL possui uma segunda unidade, também na Zona Norte de São Paulo, e uma loja dentro da praça de alimentação do hipermercado Andorinha, no Horto Florestal.

 

Com mesas de alumínio e banquinhos de plástico que já superam cinco décadas de existência, o Bar do Luiz Fernandes não pretende parar tão cedo. Segundo as irmãs Carol e Clara Mazetto, o ambiente do boteco reflete bem toda a evolução dos anos de trabalho em família. Na casa, por exemplo, é possível encontrar muitas lembranças de amigos e fregueses que viajavam e traziam adereços divertidos para o bar.

 

Quarta geração no comando

 

Carol Mazetto explica para a Rede Food Service que ela e suas irmãs, três ao total – Catarina, Carolina e Clara -, nasceram dentro do bar, por assim dizer. “Lembro que quando eu era criança, fazia mini pastéis e dava de graça aos meus fregueses preferidos, e meu avô gritava comigo, dizendo que eles não iriam consumir nada pago do boteco porque já estavam cheios de mini pastéis de vento”, recorda ela, com muito orgulho da história que ainda hoje guia o negócio familiar.

 

“Sempre admirei muito meu pai como empresário. Ele sempre foi um exemplo e poder seguir os passos dele é muito gratificante. Desde os meus 17 anos que trabalho com ele”, diz Carol, que começou sua trajetória profissional na cozinha do BDL, fritando pastéis e bolinhos. “Foi aí que decidi que deveria fazer alguma graduação relacionada ao nosso comércio. Escolhi a nutrição porque consegui entender que ali existia uma oportunidade de melhoria, que com o meu conhecimento poderia agregar de alguma forma”.

 

Clara, a irmã de Carol, seguiu o mesmo raciocínio e hoje cursa administração de empresas. “Isso revolucionou muitos aspectos do nosso negócio, como a gestão de estoque, financeiro, administrativo e até mesmo a gestão de risco”, comenta.

 

Mas nem tudo são flores. As irmãs também enfrentaram desafios nessa jornada, sejam eles relacionados ao gerenciamento do bar, sejam por questões sexistas. Mas a resistência, somada a competência, abre e pavimenta caminhos.

 

“Ser mulher à frente de um negócio já é um desafio, dentro de um boteco então, os desafios triplicam. No início foi muito difícil mostrar para os funcionários e até mesmo para o nosso pai, a importância da nossa presença ali. Acredito que isso vai sendo construído ao longo do tempo, com bons resultados aparecendo conforme as estratégias vão sendo pensadas. Precisamos ter paciência e fazer um bom trabalho”, afirmam.

 

Os diferenciais do queridinho

 

Amado pelos frequentadores, que ao longo dos anos desenvolveram uma verdadeira relação de carinho, respeito e admiração pelo negócio; o Bar do Luiz Fernandes tem diferenciais que proporcionam esse status de queridinho do público. E um deles, talvez o mais importante, é a autenticidade.

 

 

“Eu acredito que história é algo que não se paga. Temos um privilégio enorme de estarmos em uma empresa que passou por tantos conflitos econômicos e sociais e, mesmo assim, está entre os bares mais legais de São Paulo. É uma honra fazer parte disso. Acredito que não só o nosso bar, mas qualquer negócio precisa de autenticidade, precisa contar uma história com essência e verdade. Só assim é possível se destacar”, diz Carol Mazetto.

 

Para comer

 

As irmãs Carol e Clara revelam que o cardápio do Bar do Luiz Fernandes nasceu de forma muito espontânea. “Nossa bisavó Idalina criou um bolinho que até hoje é o carro-chefe da casa, o bolinho de carne”. Inclusive, em 2013, o produto foi o vencedor da categoria Melhor Petisco na premiação da revista Veja São Paulo, e também foi vencedor do prêmio de Melhor Petisco Datafolha em 2015.

 

E teve inovações. Ao bolinho inicial, somaram-se outros, anualmente. Então, no cardápio também é possível conferir o bolinho garbanzo, o rabo de touro, o bolovo, o surpresa da D. Idalina, o de bacalhau, o maravilha, o basco e outros.

 

 

Petiscos brasileiros, típicos de comida de boteco, como, por exemplo, frango à passarinho, escondidinho de carne seca, cuscuz paulista, queijo empanado, acepipes, calabresa acebolada, pastéis, torresmo, empadinhas e coxinhas, também marcam presença no cardápio do BDL.

 

 

“Nosso pai pesquisa referências em nossas origens na Itália e Espanha durante suas viagens com a nossa mãe, Rita. E quando não dá para viajar, a pesquisa é feita aqui pelo Brasil, onde temos as melhores referências”, explicam as irmãs.

 

A dupla também comenta que, recentemente, o cardápio do Bar do Luiz Fernandes iniciou a rotina de análise do Custo da Mercadoria Vendida (CMV). “Assim, estudamos todos os valores, como número de vendas, valor de custo, percepção do cliente, e assim conseguimos entender se vale a pena manter determinado item no cardápio ou não”.

 

Para beber

 

De acordo com Carol e Clara Mazetto, o Bar do Luiz Fernandes segue uma tradição que se aplica até mesmo aos drinques. “Nosso bar não é super inovador nesse quesito. Nosso foco é a caipirinha de cachaça”, explicam.

 

Até as batidas vendidas pela casa são drinques feito pelo avô das irmãs, lá atrás, quando o negócio ainda era uma pequena venda. “E essas ainda são algumas das bebidas mais pedidas pelos clientes. Temos as batidas nos sabores amendoim, coco, maracujá, espanhola, vinho com morango, milho e mel. A minha preferida é a de coco”, conta Carol.

 

 

A carta de bebidas do Bar do Luiz Fernandes é a prova de que o básico, quando bem-feito, funciona. E muito.

 

“Alguns fregueses ainda se lembram da época em que éramos chamados de Bar das Batidas. Há cinco décadas vendíamos para eventos em clubes, aniversários, nascimentos de bebês e grandes celebrações”.

 

Hoje, as batidas ganharam uma nova roupagem: uma garrafa desenvolvida com carinho e beleza, fechada com rolha de cortiça, como manda a tradição do boteco.

 

Crescimento

 

Como dito anteriormente, o negócio começou pequeno, mas, devido ao sucesso, alçou voos maiores. Em 1992, a família decidiu se arriscar e iniciar um novo negócio. A ideia original era abrir uma casa de massas, mas, ao olhar para suas origens e diante do crescimento do número de frequentadores do bar, a família decidiu expandir, abrindo o BDL Engenheiro, desenvolvido para atender pequenos grupos de grandes amigos, casais apaixonados e famílias em busca dos petiscos clássicos da casa.

 

A expansão seguinte veio com o BDL Andorinha, que nasceu com a proposta de levar o boteco preferido dos fregueses para dentro de um supermercado, utilizando a máxima de unir o útil ao agradável.

 

 

A pandemia da Covid-19 também foi um agente de mudanças para o Bar do Luiz Fernandes. Foi durante o período da problemática mundial que a família Fernandes novamente se reinventou e desenvolveu o bolinho de carne frito e congelado, um produto feito com a alta tecnologia dos ultracongeladores, o que evita a formação de cristais de gelo e garante que o bolinho esquente perfeitamente. Os bolinhos, inclusive, hoje contam com diversos pontos de vendas que podem ser conferidos no site do boteco (www.bardoluizfernandes.com.br).

 

 

Outra novidade trazida pelo cenário pandêmico de 2020 foi a criação dos pratos feitos (PFs) da casa, que ainda hoje fazem um grande sucesso no boteco. As receitas não são fixas, uma estratégia que acrescenta uma pitada de versatilidade e frescor ao serviço. Assim, toda sexta-feira o BDL prepara um PF diferente, no capricho, com o anúncio do prato sendo feito pelas redes sociais.

 

O BDL também se especializou em levar sua tradição para eventos privados, realizados dentro ou fora do bar. Quem manda é o freguês.

 

Futuro é logo ali

 

Carol Mazetto, diretora geral do Bar do Luiz Fernandes, conta para a Rede Food Service que tem o grande sonho de abrir outra unidade do boteco na Zona Sul de São Paulo, mas ainda precisa convencer o pai da viabilidade desse novo passo.

 

 

“É difícil avançar porque quando o negócio está dando certo, parece que o medo de inovar é maior. O receio é acabar com tudo. Então, somos muito cautelosos nas nossas decisões. Mas quem sabe um dia…”.

 

Porém, quando o assunto são novos produtos, Carol adianta: “Pode ter certeza de que todo ano você verá um novo bolinho super gostoso no nosso cardápio. Este ano, inclusive, já estamos fazendo uma parceria com um dos restaurantes mais legais de São Paulo”, faz mistério.

 

Visão de mercado

 

Com um público diverso, o que vai da classe C até a AA, mas, majoritariamente, atendendo ao público A/B, o ticket médio do Bar do Luiz Fernandes fica em torno de R$ 90.

 

Sobre o mercado brasileiro, a diretora geral Carol Mazetto explica que a casa vem se consolidando como referência em boteco.

 

“Meu maior sonho é sermos top of mind de boteco brasileiro. Acredito que as redes sociais são um ótimo canal de comunicação com novos clientes e um reforço para os nossos fregueses recorrentes. Hoje em dia, as pessoas procuram autenticidade, já existe muito do mesmo, e o nosso bar, por ser algo que carrega uma história, se torna difícil de ser copiado. Mesmo pessoas jovens gostam bastante desse clima familiar descontraído, que conta uma história nas paredes, como as fotos e lembranças dos nossos fregueses que colocamos em estantes. Nosso público quer se conectar com histórias e com pessoas”, diz Carol.

 

Evoluindo sem perder

 

Manter tradições agrega valor ao negócio, mas também traz algumas questões que devem deixar os empresários atentos para que não se tornem amarras. Cientes disso, as irmãs Carol e Clara Mazetto contam que mantêm a tradição, mas sabem inovar quando necessário. A chave é o equilíbrio.

 

“Os próprios clientes já imaginam o que vão encontrar no nosso bar por conta da história que contamos e pela vibe do nosso negócio. Mas é muito importante estarmos atentos às mudanças. Por exemplo, os vídeos do Instagram eram algo que o meu pai odiava fazer, e, com a nossa insistência e visão de geração Z, conseguimos implementar para alcançar um público muito legal, inclusive, há clientes que procuram por ele, vindo de lugares bem distantes, como Manaus, ou até mesmo de fora do Brasil. Hoje, o Instagram para ele é uma forma de conexão com os clientes, ainda bem que insistimos porque ele leva jeito e se diverte”, comemoram.

 

Os vídeos citados pelas irmãs, feitos de forma descontraída e esbanjando carisma, têm feito sucesso nas redes sociais, adicionando uma pitada extra de identificação e aproximação entre fregueses e proprietários.

 

Dica de empreendedor

 

Para os que estão na mesma jornada de empreender no setor de alimentação fora do lar, Carol Mazetto deixa uma dica: “Tenha pessoas te ajudando, funcionários adequados à vaga e à sua cultura. Você vai precisar arregaçar as mangas e trabalhar muito no começo até conseguir alcançar uma certa independência. Não tenha medo dos desafios. Você não é a primeira pessoa a empreender, então pode dar muito certo com você, assim como outros empresários também têm sucesso”.

 

Contato

 

Para fazer contato e/ou acompanhar as novidades do Bar do Luiz Fernandes, os interessados podem seguir o boteco no Instagram (@barroluizf), que é o principal canal de comunicação da empresa. Ou ainda mandar e-mail para o endereço [email protected].

Já para quem deseja fazer uma visita, as unidades do BDL estão localizadas na Zona Norte de São Paulo, nos seguintes endereços:

Matriz: Rua Augusto Tolle, 610, fundada em 1970, aparece a maioria dos vídeos

Segunda unidade: Av. Engenheiro Caetano Álvares, 5470, com feijoada aos sábados

Terceira unidade: Andorinha Hipercenter, 3º piso, praça de alimentação, ideal para comer um bolinho após as compras

 

Esfiha Imigrantes: a história do tradicional negócio food service que vende mais de 5 milhões de esfihas por ano