O clima tropical brasileiro é o cenário ideal para as pessoas que adoram saborear um bom sorvete, picolé ou gelato. Em uma indústria que movimenta bilhões anualmente, as opções de sabores e formatos disponíveis para os consumidores são um diferencial significativo para os negócios que desejam conquistar os amantes dessas delícias geladas e se consolidar no mercado.
No Nordeste, mais especificamente na cidade de Aracaju, em Sergipe, uma gelateria artesanal vem inovando no mercado de food service, tanto pelos produtos oferecidos quanto pelo seu formato de trabalho.
A trajetória da Gelateria Il Sordo (O Surdo, em italiano) é um testemunho vivo da resiliência e da determinação em superar barreiras. O que começou como um sonho modesto de abrir um bike food de açaí e paletas, se transformou em uma jornada de sucesso no mercado de gelatos.
A Rede Food Service te conta com detalhes sobre essa história de superação e sucesso. Vem com a gente!
Superando adversidades
Para entender a essência da Gelateria Il Sordo, precisamos conhecer a história de Breno Oliveira, o visionário por trás desse negócio inclusivo. Nascido surdo profundo devido à rubéola contraída por sua mãe durante a gravidez, Breno enfrentou desafios desde cedo. Porém, sua jornada foi marcada pela determinação em superar obstáculos e defender os direitos das pessoas surdas.
“Completei 31 anos no dia 7 de maio. Nasci surdo profundo, pois minha mãe contraiu rubéola durante a gravidez. Quando eu tinha 4 anos, meus pais descobriram o livro “Vendo Vozes”, do autor Oliver Sacks, e começamos a aprender Libras”, relembra Breno.

Ele conta que, na época, foi desencorajado pela sua fonoaudiologia a utilizar sinais de Libras. “Isso me desmotivou muito na época, então meus pais se uniram a outros pais de surdos para fundar uma escola para surdos, o ONG IPAESE (Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe). Foi lá que consegui estudar junto com outros alunos surdos e aprendi a lutar pela defesa dos direitos da comunidade surda”, diz.
A semente do empreendedorismo foi plantada durante seus anos de escola, onde teve a oportunidade de aprender sobre negócios e elaborar planos futuros. Inspirado por empreendedores surdos ao redor do mundo, Breno começou a sonhar em ter sua própria empresa. E assim nasceu a ideia da Il Sordo Gelateria.
“Na escola, tive a oportunidade de cursar uma disciplina de empreendedorismo com um professor maravilhoso. Aprendi muitas coisas com ele, como elaborar um plano de negócios, e pesquisei sobre empreendedores surdos que se destacaram no Brasil e no mundo. Esses exemplos me inspiraram bastante, e comecei a sonhar em ter minha própria empresa. Realizei pesquisas sobre empreendedores surdos ao redor do mundo, mas descobri que são realmente raros”, destaca ele. Mas foi a partir daí que Breno buscou levar seu desejo de empreender adiante.
O amor por gelato e o nascimento da Il Sordo
Antes de fundar a Il Sordo, Breno Oliveira sofreu preconceitos na vida profissional por ser uma pessoa surda, mas isso não o desanimou. Em meio aos momentos difíceis, ele conseguiu encontrar a sua paixão. “Trabalhei por 3 anos, fui demitido e depois tive muita dificuldade para conseguir novas oportunidades. Vi que o mercado de trabalho era muito injusto, até preconceituoso. Optei por tentar abrir um negócio, mas eu estava completamente ciente de que era um grande desafio. Meu pai me incentivou a fazer um curso de gelato. E me apaixonei”, conta.

Motivado pelas dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho, Breno decidiu apostar no empreendedorismo e abriu a Il Sordo em 2016. Após se apaixonar pela arte de fazer gelato, ele viu na gelateria uma oportunidade de não apenas realizar seu sonho, mas também de promover a inclusão e a acessibilidade.
Um dos pilares fundamentais da Il Sordo é a acessibilidade atitudinal, que vai além das barreiras físicas e se estende ao acolhimento e compreensão de todos os clientes, independentemente de suas diferenças. Além disso, o estabelecimento busca atender às necessidades de diversos públicos, incluindo veganos, diabéticos, grávidas, idosos e a comunidade LGBT+.
Com mais de 80% de seus colaboradores surdos, a Il Sordo não apenas oferece oportunidades de emprego, mas também proporciona um ambiente de trabalho inclusivo e acolhedor. A comunicação na equipe é facilitada pela Língua de Sinais Brasileira (Libras), garantindo que todos os funcionários possam se expressar e se comunicar livremente. Experiências positivas com clientes e investidores surdos destacam o impacto significativo que a gelateria tem na comunidade.

“Nunca! Não esperava! Naturalmente, nossos clientes que nos levaram a isso”, exclama Breno Oliveira ao ser questionado se em algum momento ele imaginou o sucesso que a Il Sordo alcançaria. E não é pra tanto.
Hoje, com seis lojas e um modelo de franquias, o sonho idealizado por Breno, com apoio da família e orientado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), tornou-se um negócio rentável, com faturamento anual de R$ 1,6 milhão por ano e mais de 6 mil clientes por mês, e reconhecido, tendo sido indicada ao Prêmio Veja, da revista Veja, e participado do reality show Shark Tank Brasil. A empresa conta ainda com uma certificação de excelência com nota máxima pela TripAdvisor.

E não para por aí. A história da Il Sordo se entrelaça com a entrada de André Vasco, um comunicador apaixonado por gelato e por sua própria jornada de descoberta de uma perda auditiva. A união entre Breno Oliveira e André não apenas fortaleceu o negócio, mas também reforçou o propósito da gelateria como um espaço de inclusão e aceitação.
“Numa das minhas muitas visitas a Aracaju conheci a Il Sordo, e eu havia acabado de descobrir uma perda auditiva (hoje uso aparelho nos dois lados). Ao conhecer Breno, sua família e a gelateria, me emocionei e sabia que tinha que entrar para essa família linda”, relata André, que já passou por emissoras de rádio e TV do Brasil.
Os sabores da Il Sordo
O cardápio diversificado da Il Sordo oferece opções para todos os gostos e necessidades, desde sabores tradicionais até opções veganas e sem açúcar. A qualidade dos ingredientes e o compromisso com a excelência são evidentes em cada gelato servido, tornando a gelateria uma referência em qualidade e inclusão.

“Temos um compromisso com a qualidade das matérias primas como frutas naturais, leite A2, tudo da melhor qualidade, variedade (enorme) para veganos, intolerantes a lactose e gelatos sem açúcar (para crianças, diabéticos ou quem quer pegar leve no doce). Sou suspeito, mas o de Manga, Paçoca, Amora, Maracujá, Beethoven (sabor que criamos em homenagem ao compositor que era surdo), Ninho, Nero (chocolate com base de água sem lactose), coco, Melancia, Café”, exalta André Vasco, sócio do projeto.
Um outro detalhe importante sobre a gelateria é que os cardápios contam com mais imagens e são mais interativos. Sobre os espaços das seis gelaterias, André explica que o negócio conta com uma estrutura padrão de qualidade máxima, além da empatia com todos que ali passam.
“Te garanto que somos o lugar mais inclusivo de São Paulo, e estamos a cada dia vendo as necessidades de evoluir sempre. É mais que uma gelateria, é um espaço de convivência, de descoberta, de experiência, de aceitação e de afeto. Não somos inclusivos por moda, está no DNA, é de verdade”.
Um Futuro de Expansão e Inclusão
Com planos de expansão para novas lojas no Brasil e no mundo, a Il Sordo continua sua missão de promover a inclusão e a diversidade em todos os aspectos do negócio. Mais do que uma gelateria, a Il Sordo é um símbolo de esperança e inspiração para uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.
Na Il Sordo, o sabor vai além do paladar. É uma experiência de amor, aceitação e inclusão.

Maria Luna
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