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Batatas-doces coloridas e biofortificadas são criadas por meio de pesquisa da Embrapa Hortaliças

As novas variedades das raízes tuberosas apresentam alto teor de compostos bioativos benéficos à saúde, somando à atual onda de saudabilidade e sustentabilidade presente no mercado nacional food service

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Desde o começo da atual pandemia de Covid-19, o consumo de alimentos saudáveis, que já vinha ganhando força entre os brasileiros, foi acelerado. Em 2020, por exemplo e conforme levantamento da Euromonitor Internacional, as vendas desses produtos, com destaque para itens sem glúten ou com menor teor de sódio a orgânicos certificados, atingiram nada menos que R$ 100 bilhões no país, sendo a maior cifra para essa categoria de alimentos já registrada desde 2006, quando esse segmento começou a ser monitorado pela mesma consultoria. Já em relação a 2019, o avanço foi de 3,5%.

 

Um estudo feito pela Kantar revela também que, no início da pandemia, 33% dos brasileiros disseram ter aumentado o consumo de legumes, verduras e hortaliças, sendo que 67% planejavam manter o novo hábito no futuro. E, neste ano de 2021, a busca por alimentos mais nutritivos e saudáveis continuou relevante, especialmente nas horas do lanche. Além disso, ocasiões com necessidade de saudabilidade cresceram 15% em 2021 entre os brasileiros em relação ao mesmo período do ano passado, sendo que essa tendência foi impulsionada, principalmente, pela adoção de dietas com índice 27% superior ao segundo trimestre de 2020, com consumidores entre 35 a 44 anos e mais de 45 anos fazendo maior contribuição a esse crescimento. Assim como, a necessidade de um consumo mais saudável, vinculada à busca por alimentos mais nutritivos, foi liderada por lares com crianças e adolescentes de até 18 anos, com um aumento de 9,1% em ocasiões de consumo.

 

Já recente pesquisa feita pela empresa norte-americana Union + Webster e divulgada pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), aponta que 87% dos brasileiros preferem empresas com práticas sustentáveis na hora de fazer as suas compras ou investimentos.

 

Frente à essa atual onda de saudabilidade e sustentabilidade presente no mercado nacional de alimentação fora do lar, hoje, nós da Rede Food Service queremos te contar uma novidade que soma e muito para esse ramo. Afinal, por meio de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Hortaliças do Distrito Federal, acabam de ser criadas batatas-doces coloridas e biofortificadas, que apresentam alto teor de compostos bioativos benéficos à saúde.

 

Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, Larissa Vendrame, pesquisadora e coordenadora do Programa de Melhoramento Genético de Batata-Doce da Embrapa, destaca que “o consumidor atual está interessado em ter uma alimentação saudável e um consumo consciente, visando melhor qualidade de vida e menor impacto ambiental. Conhecido também como o ‘mindful eating’, esse tipo de consumo de alimentos está atrelado ao aumento da ingestão de hortaliças e frutas e ao conhecimento sobre a forma com que esses alimentos chegam ao mercado consumidor. As batatas-doces coloridas, além de serem uma importante fonte de carboidratos de baixo índice glicêmico, também são fontes importantes de compostos bioativos e vitaminas, como as antocianinas e os betacarotenos. Além disso, o aumento do interesse pelo consumo de hortaliças em função de uma maior adesão de pessoas ao veganismo e vegetarianismo gera uma demanda de uma maior diversidade de produtos com qualidade superior, como é o caso desse tipo de hortaliça. Os influenciadores de consumo, de maneira geral, incentivam o consumo mais saudável e consciente, impactando em um aumento da demanda por esse tipo de produto”, afirma.

 

Principais características das batatas-doces coloridas e biofortificadas

 

Ao todo, foram desenvolvidas três novas cultivares de batata-doce, “que prometem colocar mais cores e nutrientes na dieta dos brasileiros. Em vez da casca rosada e da polpa de cor creme das variedades tradicionalmente plantadas e consumidas no país, as novas cultivares destacam-se pelos tons de roxo e de laranja, que são indicativos do alto teor de compostos bioativos benéficos para a saúde, como as antocianinas e o betacaroteno, respectivamente. Duas das novas cultivares possuem a casca e a polpa roxas e diferenciam-se quanto à destinação: a batata-doce BRS Cotinga é recomendada para processamento industrial na forma de chips, farinha, xarope de amido e outros produtos derivados. E a batata-doce BRS Anembé para o mercado de mesa, em preparos culinários assados, como purês, doces caseiros e pães. Já a batata-doce CIP BRS Nuti, desenvolvida em parceria com o Centro Internacional de la Papa (CIP) do Peru, tem casca e polpa alaranjadas e possui dupla aptidão, podendo atender ambas as finalidades”, detalha a assessoria de imprensa da Embrapa Hortaliça DF.

 

Foto: Batatas-doces – DIAS, Anna Thais Gomes Maroni

 

Vendrame completa que, hoje em dia, essa cadeia produtiva necessita da oferta de cultivares de polpa colorida com alto teor nutritivo e que os poucos materiais disponíveis aos agricultores têm limitação geográfica para o plantio, além de baixa estabilidade de produção e pouca qualidade de raízes. “Por isso, as novas cultivares disponibilizadas pela pesquisa pública brasileira atendem a uma demanda do setor produtivo, entregando maiores índices de produtividade, melhor qualidade, resistência a doenças, estabilidade de produção e ampla adaptação às diferentes regiões de cultivo do país. São hortaliças menos exigentes em água e nutrientes e mais resistentes a doenças e pragas, resultando em uma menor necessidade de aplicação de defensivos agrícolas e demais insumos, consequentemente, em um menor custo de produção”, destaca.

 

Serventia das batatas-doces coloridas e biofortificadas

 

Em relação à serventia das batatas-doces coloridas e biofortificadas, a assessoria de imprensa da Embrapa Hotaliça DF informa que “elas atendem não somente os agricultores, mas também os consumidores que, cada dia mais, têm buscado uma dieta diversificada e saudável, com base em alimentos funcionais. Além disso, a batata-doce é um alimento que está entre as principais fontes de carboidratos complexos e de baixa caloria da dieta do brasileiro. A coloração arroxeada das batatas-doces BRS Cotinga e BRS Anembé, por exemplo, deriva do alto teor de antocianinas, que são pigmentos naturais responsáveis pelos tons de azul, roxo e vermelho em alimentos, como frutas, raízes e folhas. As antocianinas e demais compostos fenólicos presentes na batata-doce de polpa roxa são substâncias bioativas associadas à redução do risco de doenças degenerativas, uma vez que possuem ação antioxidante e anti-inflamatória no organismo. E as cultivares BRS Cotinga e BRS Anembé apresentam, respectivamente, teores de 154 mg/100g e 184,8 mg/100g de antocianinas, que são valores semelhantes aos encontrados em frutas de cor arroxeada. Já o betacaroteno, presente na batata-doce CIP BRS Nuti, é o pigmento natural associado às cores laranja e amarela nos alimentos, que funciona como um precursor de vitamina A. Ou seja, se transforma em vitamina A no organismo, uma substância muito importante para a saúde, já que previne distúrbios oculares e doenças da pele, auxilia no crescimento e no desenvolvimento e fortalece a defesa do corpo contra infecções. Também age como antioxidante ao combater os radicais livres que aceleram o envelhecimento e ocasionam diversas doenças. Enquanto em variedades de polpa branca ou creme, a concentração de betacaroteno é irrisória, na cultivar CIP BRS Nuti o teor de betacaroteno pode alcançar 150 mg/kg, sendo superior à outra cultivar de batata-doce recomendada pela Embrapa, a batata-doce Beauregard, que atinge 115 mg/kg”, aponta.

 

Foto: Divulgação

 

Raphael Melo, agrônomo e pesquisador da área de Fitotecnia da Embrapa Hortaliças DF acrescenta que “a produção de batata-doce de polpa roxa vem ganhando espaço, o que é uma vantagem para os agricultores, visto que essa cultura apresenta ampla adaptação em todo o território brasileiro e um elevado rendimento de raízes por área, bem como para os consumidores, pois a batata-doce roxa tem um preço mais acessível do que outras fontes importantes de antocianinas, como uva, amora, açaí e mirtilo”, afirma.

 

Já o produtor rural Flávio Roberto Marchesin, de São Carlos, no interior de São Paulo, que participou da etapa de validação das cultivares BRS Anembé e BRS Cotinga, salienta a cor e o valor nutricional para obter maior valor agregado na comercialização das novas batatas-doces coloridas e biofortificadas. “São detalhes que chamam atenção dos consumidores”, acredita.

 

Vantagens competitivas das batatas-doces coloridas e biofortificadas

 

Sobre as vantagens competitivas das batatas-doces coloridas e biofortificadas, os pesquisadores da Embrapa Hortaliça DF consideram que a principal é “a estabilidade de produção e a ampla adaptação a diferentes regiões de cultivo. Ou seja, elas apresentam comportamento regular e alcançam seu potencial produtivo mesmo em condições adversas de produção. Essa característica é comprovada pelos altos índices de produtividade obtidos nas áreas validadas, que vão de Estados do Nordeste até do Centro-Sul do Brasil”, relata a assessoria.

 

Larissa Vendrame da Embrapa – Foto: Divulgação

 

Conforme Vendrame, “houve casos de as cultivares produzirem muito bem mesmo após cinco geadas em áreas de validação do interior de São Paulo ou sendo plantadas sem qualquer irrigação, mas durante a época de chuva em Uruana, em Goiás”, partilha.

 

A assessoria da Embrapa Hortaliça DF informa ainda que, no geral, a produtividade média das três novas cultivares superou 40 toneladas por hectare, valor que é o triplo da produtividade média nacional, e que os testes de validação indicaram as seguintes produtividades médias: batata-doce BRS Nuti, 40 t/ha; batata-doce BRS Anembé, 42 t/ha; e batata-doce BRS Cotinga, 45 t/ha.

 

É válido salientar que, no ano passado, por exemplo, a produtividade média nacional da batata-doce ultrapassou a faixa de 14 t/ha, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), crescendo 30% em comparação aos valores obtidos há uma década. “Embora os números crescentes reflitam a maior adoção de tecnologias pela cadeia produtiva, como plantio de mudas sadias e cultivares com alto potencial produtivo, o Brasil ainda obtém produtividade bem inferior quando comparado aos principais países produtores de batata-doce, a exemplo de Senegal, com produtividade de 35,4 t/ha”, compara Vendrame.

 

Mercado de batata-doce no Brasil

 

Segundo levantamento do IBGE, em 2020, a área plantada com batata-doce no território nacional foi de 59,5 mil hectares e a produção totalizou 847,9 mil toneladas.

 

Entre os Estados, São Paulo é o maior produtor, com 182 mil toneladas e 17% da área nacional de batata-doce, seguido pelo Rio Grande do Sul, que produz 133,6 mil toneladas em 18,6% da área. Mas, se considerarmos as regiões geográficas, é o Nordeste que apresenta maior destaque e ocupa a liderança, com 345,7 mil toneladas produzidas ou 40% do total, distribuídas por 47,5% da área colhida do país. No entanto, apesar da tendência de aumento da área plantada, o Brasil ainda ocupa apenas a 16ª posição entre os países que mais produzem a raiz, sendo que a liderança absoluta nesse ranking fica com a China, que colhe mais de 53 milhões de toneladas anualmente.

 

Alexandre Mello – Foto: Divulgação

 

De uma maneia mais ampla, o atual mercado brasileiro de batata-doce é voltado, principalmente, para o consumo humano a partir de raízes frescas, mas já é possível observar um crescimento considerável no processamento industrial das raízes. “A disponibilização de novas cultivares que atendam aos requisitos de qualidade exigidos pelo mercado dialoga com a demanda crescente de raízes com maior rendimento para o processamento industrial, já que, a cada ano, novas empresas adicionam aos seus portfólios produtos derivados da batata-doce, convencionais ou coloridas”, avalia Raphael Melo, pesquisador da área de Fitotecnia da Embrapa Hortaliças.

 

Alexandre Mello, também pesquisador da Embrapa e o responsável pelo processo de seleção e caracterização da cultivar nas condições brasileiras, enfatiza que “a batata-doce CIP BRS Nuti não pretende substituir a cultivar Beauregard, mas sim ofertar mais opções de raízes de polpa alaranjada aos produtores. Ela tem a parte aérea mais robusta e vigorosa, o que facilita o plantio, o pegamento das mudas e o controle de plantas daninhas”, esclarece.

 

Ana Cristina Krolow, pesquisadora da área de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Embrapa Clima Temperado, por sua vez, partilha que, na sua concepção sobre o atual mercado nacional de batata-doce, são os aspectos de qualidade que definem qual a melhor mercado de destinação de uma cultivar de batata-doce, se para mesa ou para indústria. “Enquanto os teores de sólidos solúveis são os responsáveis pelo sabor e estão correlacionados ao total de todos os sólidos dissolvidos na água, como açúcar, sais, proteínas e ácidos presentes nos alimentos, o teor de matéria seca representa todos os sólidos presentes no alimento menos a água. Como os açúcares, normalmente, são os compostos mais representativos do teor de sólidos solúveis, podemos entender que nos remetem ao gosto doce do produto. Além disso, os teores elevados de matéria seca, acima de 20%, são ideais para o processamento industrial. Ou seja, para a produção de chips, pois podem apresentar textura mais crocante”, divide.

 

Como ter acesso às batatas-doces coloridas e biofortificadas?

 

E aí? Ficou interessado (a) em experimentar e/ou começar a trabalhar com as batatas-doces coloridas e biofortificadas, não é mesmo? No entanto, Vendrame argumenta que “o empresário food service deve estar atento ao movimento do mercado consumidor para que a demanda criada não seja frustrada. Como exemplo, no mercado americano de food service, as batatas-doces alaranjadas pré-fritas são encontradas em supermercados e restaurantes com uma frequência bastante elevada e o consumo tem aumentado cada vez mais. Sendo assim, a Secretaria de Negócios da Embrapa já abriu um edital para viveiristas licenciarem e comercializarem mudas das novas batatas-doces. Assim, tão logo os produtores tenham acesso ao material propagativo, as batatas-doces coloridas e biofortificadas estarão disponíveis no mercado”, divulga.

 

Na Rede Food Service é assim! Todo assunto Sustenfood que soma ao mercado nacional de alimentação fora do lar é compartilhado com você! Por isso, continue nos acompanhando!

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