Quais são as implicações sobre como a tecnologia está mudando (e a pandemia acelerando) o que comemos e como comemos?
Na tentativa de descrever o século 20 e o século 21 do comportamento alimentar, de uma forma bem simplificada, podemos dizer que:
Sec 20
Consumo de Alimentos e bebidas embalados há poucos minutos/metros de distância, Levados e consumidos em casa (varejo) ou Preparados e consumidos naquele local (food service);
Sec 21
Consumo de Alimentos frescos a um só clique de distância, Entregues em qualquer lugar, em um curto espaço de tempo, em todas as suas formas – Embalados, semi-preparados ou preparados;
Portanto, no século 21 não vemos uma separação nítida de tipos/formatos de produtos, entre os canais (varejo X foodservice X operadores), assim como no século 20. Isso resulta em uma grande quebra de paradigma…
…E nesta quebra nasce o conceito da “COMIDA SOB DEMANDA”.
“NOSSA COMIDA SERÁ MAIS CONSUMIDA DENTRO DE CASA, MAS SERÁ MAIS PRODUZIDA FORA DE CASA”
2 direcionadores para esta quebra de paradigma
- mudanças de estilo de vida dos consumidores – vários estudos nos demonstram que as pessoas passaram a precisar, querer, gostar de manipular seus próprios alimentos nos lugares onde moram, estão ou no meio do caminho. Portanto, alimentos frescos nos formatos, embalado, semi-preparado ou preparado, tomam um lugar no coração dos consumidores, enquanto que a preferência dos locais para consumo destes alimentos mudaram. Alimentar-se em casa, em locais aleatórios ao ar livre, no trabalho, e outros, passou a “concorrer” com os ambientes dos restaurantes, bares e afins.
- encaminhamento dos investimentos para tecnologia/infraestrutura – por isso, acontecem hoje enormes investimentos para melhoria drástica da logística e infraestrutura das plataformas de e-commerces e deliveries (lembre-se que há pouco tempo, muitos de nossos pedidos demoravam mais de 50 minutos para chegar as nossas mãos). Segundo Euromonitor, houve um Aumento de 400% nos gastos globais em delivery e e-commerce (aquecido pela pandemia, mas não inventado por ela) entre 2015 e 2020. Estes investimentos globais foram muito puxados por AMAZON, ALIBABA, MAGAZINE LUIZA no BR, e outros retailers de relevância, seguidos pelo surgimento de tantas startups.
E suas implicações…
- potencialmente, toda refeição é uma refeição a ser realizada em casa ou em algum lugar diferente do que um estabelecimento comercial de alimentação (o isolamento social agrava isso);
- um número cada vez maior de operadores e varejos estão oferecendo delivery sem muita distinção de formatos de produtos, (todos oferecem produtos parecidos e estão online – padarias, restaurantes, cozinhas escondidas, supermercados, buffets, dentre muitos outros);
Por causa destas implicações, diferentes modelos de negócios vêm aparecendo ou se adaptando, contando com as vantagens da automação e da tecnologia. Estes modelos trazem uma proposta de valor chamada PRODUÇÃO COMO SERVIÇO. Veja alguns deles abaixo:
- Dark, Ghost ou Cloud Kitchens, empresas que congregam uma cozinha compartilhada, já em funcionamento, que pode produzir sua própria marca e/ou outras marcas. Ilustrando: Pense numa rede internacional que queira desembarcar no Brasil sem muitos investimentos, que possa contar com uma cozinha, com toda expertise e estrutura física já instalada. O caminho e o investimento com certeza serão muito menores comparados a um projeto que necessite o desenvolvimento “do zero” (vide artigo da RFS https://redefoodservice.com.br/2020/12/2020-o-ano-das-dark-kitchens-ghost-kitchens-e-ou-cloud-kitchens/);
- Movimentação da Indústria de alimentos embalados entrando no terreno da preparação de alimentos, algo exclusivo dos operadores de FS. Um exemplo é a KRAFTHEINZ, que na Holanda, está desenvolvendo um negócio em parceria com JustEat/Takeaway e Compass, com a marca HONIG INGREDIENTS. Será que a indústria está saindo de sua zona de conforto e se embrenhando mais a fundo na cadeia de valor do FOOD SERVICE, capturando mais um elo da jornada de alimentação do consumidor?
- O novo ON_THE_GO pode estar se transformando em centros de delivery. Propostas como clubes de assinatura (tanto para consumidores finais, quanto para pequenos varejos que fazem pedidos sistemáticos por mobile e recebem pelas máquinas mais próximas); e a proposta dos micro-market (show-room + varejo multi-marcas automatizados);
A essência de todos estes movimentos traz em si muitos desafios. Que tal refletirmos se:
- Estamos oferecendo valor real para o cliente, conhecendo-o ao ponto de atingir a dor genuína dele,
- Estamos construindo novos pontos de contato com o cliente, participando ativamente dos momentos da jornada dele,
- Estamos experimentando novos modelos de negócio ou propostas de valor (experimentos) para adaptar o negócio a este mundo de novos comportamentos.
Vale a reflexão???
Sobre a Autora
Renata Cohen é consultora e mentora em Inteligência de Negócios, com foco em planejamento estratégico, marketing (consumer experience e mkt de impacto) e inovação.
Profissional com especializações em Inteligência de Negócios e Administração Industrial, formada em Marketing, no último ano escreveu o livro “Modelo de Gestão para Resultados” pela Editora Senac e atualmente é Mestranda em Gestão para Competitividade pela Fundação Getúlio Vargas.
Como consultora e executiva, possui 30 anos de experiência nas maiores Empresas e Marcas globais de alimentos, tais como: Café Bravo, BRF, Bauducco, Kraft Heinz, Nestlé, Vigor, Cargill, Rich’s, Café 3 Corações (Strauss Elite), Bunge e outras, além de uma passagem pela área Governamental no Ministério do Turismo de Israel.