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O novo cachorro engarrafado: como o Gin chegou para ficar

Por: Marcellus Madureira

Foto: Getty Images

 

Em uma antiga frase, o poeta Vinícius de Moraes disse que “o uísque é o melhor amigo do homem: é um cachorro engarrafado”. Já para os jovens, nos últimos tempos, o Gin se transformou no grande parceiro do momento, portanto, o novo pet dentro de uma garrafa. O destilado vem ganhando cada vez mais adeptos pelo Brasil e a Rede Food Service foi entender o que está acontecendo.

 

Segundo um levantamento da consultoria Nielsen Scantrack, o Gin passa por um momento especial, com crescimento de 87,3% no valor de vendas no varejo em relação ao mesmo período do ano anterior. Se levar em consideração o volume de vendas, o aumento é ainda maior: 101,5%.

 

O crescimento da bebida no Brasil fez com que novas marcas fossem criadas e, empresas que eram tradicionais em outros ramos, ampliaram suas cartas para receber o novo público, como é o caso da Absolut, por exemplo.

 

A Diageo, por sua vez, proprietária das marcas Tanqueray, Gordon’s, Gilbeys e Villa Ascenti, ampliou seu portfólio para atender os mais variados tipos de paladares. A marca Gordon’s passou a ganhar mais espaço, sendo que já era o Gin internacional mais vendido do mundo.

 

Foto: Divulgação

 

Segundo Paula Lopes, head de marketing da Diageo, foi feito um movimento de aproximação do destilado à cultura pop, utilizando, inclusive, o reforço de influenciadores digitais como a cantora e atriz Manu Gavassi. “Na pandemia, nosso time criou experiências de consumo frente à atual realidade, intensificando a presença da marca em milhares de pontos de vendas”, ressaltou Lopes.

 

No caso de uma novidade no mercado, conversamos com a Zuur, fabricada em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo Alberto Scarano, um dos sócios da destilaria, a marca foi criada ao perceber a tendência de crescimento da bebida no Brasil.

 

Alberto, Rafael e Vinícius, sócios da ZUUR – Foto: Divulgação

 

“Nós sempre trabalhamos com eventos, seja em boates ou produtoras de festa. Quando a gente ia fazer algum evento, tínhamos que comprar 40 garrafas de vodca e cinco de gin. Isso mudou nos últimos tempos. Passamos a fazer o contrário: comprar 40 garrafas de gin e cinco de vodca. Em 2018, percebendo essa mudança, a gente desenvolveu a receita, planejamos e entramos no mercado”, destacou.

 

Foto: @zuurgin

 

Scarano acredita que a moda do gin tem alguns fatores fundamentais. Entre eles, a necessidade de ampliar o paladar. “Antigamente as pessoas gostavam de bebidas mais neutras e isso explica o sucesso da vodca. De uns anos pra cá, todos querem mais sabor, essa necessidade de variedade”. Além disso, segundo Alberto, o fato de o gin ser uma bebida menos calórica também faz diferença para o consumidor.

 

Em dado divulgado pela Zuur, a empresa teve crescimento de 200% desde sua criação em 2018.

 

Sem Gin, Sem Rei

 

O sucesso atual do gin é totalmente contrário ao que se viu logo quando a bebida deu seus primeiros passos. Em 1736, dia de São Miguel Arcanjo, a Coroa Inglesa queria colocar em prática a lei proibindo o comércio do Gin. Isso foi mais que o suficiente para os mais pobres e oprimidos de Londres fizessem um motim. Como combustível, lojistas ofereceram gin grátis durante a madrugada.

 

Na manhã seguinte, porém, o golpe simplesmente não ocorreu. Segundo jornais da época, as ruas estavam repletas de pessoas desfalecidas de tanta bebida e um alfaiate morreu intoxicado. Nos anos seguintes, Londres vivia com intensos e violentos ataques e grande desobediência civil e o principal inimigo era o Gin. A bebida estava para aquela sociedade como o crack está em 2021.

 

 

Mas a bebida não teve esse intuito quando foi criada, no século XVII, na Holanda, pelo médico Francisco De La Boe, que queria fazer um medicamento de baixo custo para doenças renais. Ele utilizou a fruta Zimbro – muito usada como diurético na medicina alternativa.

 

Porém, o preço acessível e a boa sensação misturada ao paladar agradável ganharam a disputa. Na Guerra dos 30, os soldados esquentavam o corpo com o destilado. Eles levaram a bebida para as suas casas e o destilado ganhou espaço. A facilidade para produção também impulsionou o comércio.

 

Glamour ligado a experiência

 

Mas o que torna o Gin uma bebida diferente de outras para ter tanto crescimento nos últimos tempos?

 

Segundo Vinícius Santiago, Sommelier Profissional, o glamour recente do destilado está mais ligado a experiência com a bebida ou que ela quer mostrar. “As pessoas querem beber bebidas e consumir produtos que as façam parecer melhores ou em situação melhor”, ressaltou.

 

Foto: Divulgação

 

É possível perceber isso quando Manu Gavassi, ex-BBB, atriz e cantora, vira a principal influencer da Tanqueray, por exemplo. Segundo Santiago, fotos drinques feitas com Gin são bastante atrativas para perfis no Instagram, algo que também tem feito a diferença. “Então você tem opções glamourizadas, mas que não necessariamente são opções melhores. O glamour é uma percepção, esse é o ponto, ele não é um valor intrínseco da bebida”, acrescentou.

 

O Sommelier observou, inclusive, que o Gin passa por movimento que a vodca já viveu, há 10 anos aproximadamente. “Quando surgiram várias marcas de vodca diferentes, de várias matérias primas diferentes, mas vodca é o destilado mais simples que tem. E o gin nada mais é do que um destilado simples, de qualquer base, aromatizado com zimbro. Então, é isso, assim, a experiência do glamour está mais ligada ao consumo e ao mercado do que a bebida em si”, observou.

 

“Além disso o Gin é uma excelente base para coquetéis, mas o coquetel mais clássico com gin tem apenas 3 ingredientes base: gelo, gin e água tônica. E essa base é muito personalizável, com a adição de botânicos (alguns dos mesmos usados na produção de gim) na taça”, concluiu.

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