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Rosa Moraes e seu pioneiro e incomparável trabalho de fomentar a educação brasileira por meio da gastronomia

Conheça, com exclusividade, a história de vida, inspirações, experiências, atuais projetos e missões sociais, além de dicas que podem alavancar negócios food service, da responsável pela implantação do primeiro curso superior de Gastronomia do Brasil

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De acordo com dados do Censo da Educação Superior 2019, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na sede do Ministério da Educação (MEC) em outubro de 2020, Gastronomia está entre os 10 maiores cursos de graduação tecnológicos em número de matrículas por categoria do Brasil. Além disso, o país tem cerca de 2 milhões de matrículas no curso de Gastronomia na modalidade de Ensino a Distância (EAD), o que representa 21% do total do Ensino Superior brasileiro.

 

Paralelo a esse atual expressivo interesse dos brasileiros pela formação superior em Gastronomia, é provável que a graduação tecnológica tenha conquistado maior destaque em todo o país nos últimos anos, principalmente, em decorrência do boom de sucesso de audiência dos talents shows de culinária, como MasterChef, Jogo de Panelas, Bake off Brasil, Que Seja Doce, dentre vários outros cotidianamente exibidos na televisão aberta e fechada. Entretanto, o que muitos fora do ramo perdem em desconhecer é que a criação da graduação tecnológica de Gastronomia do Brasil é fruto do pioneirismo de uma mulher.

 

Rosa Moraes, de 63 anos, é a responsável pela implantação do primeiro curso superior de Gastronomia do Brasil, na Universidade Anhembi, em São Paulo. Em entrevista exclusiva à Rede Food Service, a profissional, que é referência nacional e internacional quando o assunto é educação no segmento gastronômico, conta a sua história de vida, inspirações, experiências, atuais projetos e missões sociais, além de dar dicas que podem alavancar os negócios food service em meio ao ‘novo normal’ desencadeado pela pandemia de Covid-19.

 

Quem é Rosa Moraes?

 

Natural de São Paulo, capital, e mãe de três filhos, Moraes é uma mulher “inquieta, curiosa e uma pessoa que não tem medo de mudanças e desafios. E essas características também me guiam como profissional. O que mais me caracteriza como pessoa e profissional é a adaptabilidade, a flexibilidade, a regeneração. Sempre vivi o que a vida me trouxe com proatividade e busquei fazer do limão uma limonada. Minha ideia de vida sempre foi a de escrever o próximo capítulo, tanto na vida pessoal, quanto profissional”, como ela própria se define.

 

Foto: Divulgação

 

Formada em Biblioteconomia, Moares atuou nessa área por mais de dez anos para, depois, se tornar ceramista. Já a sua história junto ao universo da gastronomia “aconteceu quando me mudei para os Estados Unidos, mais especificamente para a Califórnia, onde passei a ter um contato íntimo e irreversível com os alimentos, a arte do cozinhar e todo o universo que envolve comida, da terra ao prato. Comecei a estudar e pesquisar, fazer cursos de especialização e me aprofundar. A gastronomia se tornou minha grande área de atuação desde então. Mas, também venho de uma família de mulheres cozinheiras. Assim, acredito já existia em mim um olhar de afeto para o mundo da culinária. Porém, foram os doze anos que vivi nos Estados Unidos que transformaram esse olhar em profissão. Primeiro, surgiu como interesse pessoal, mas minha pesquisa sobre a área acabou tomando outras proporções. Passei a contribuir com artigos para as principais publicações gastronômicas do Brasil, me tornei uma correspondente mesmo. Foi quando, aproximadamente um ano antes de voltar para o Brasil, surgiu o convite para que eu encabeçasse a abertura do primeiro curso superior de Gastronomia do país, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. E, aí, foi um caminho sem volta: o de trabalhar com educação nessa área, que tem um potencial de crescimento gigantesco”, afirma.

 

 

Inspirações de carreira

 

Para Moraes, apesar de ter iniciado sua história junto à gastronomia por meio do estudo e produção de conteúdo como correspondente, a sua carreira profissional na educação gastronômica só começou mesmo em 1999, data de inauguração do primeiro curso superior de Gastronomia do Brasil. “A partir daí, teve muita coisa. Esse curso abriu as portas para a profissionalização do setor no Brasil e foi se ramificando país afora, além de abranger outras especialidades que são importantes e em que o nosso mercado ainda patinava bastante, como gestão, liderança, recursos humanos. São competências fundamentais também para o ramo de alimentos e bebidas. Mas, falando em pontapé inicial, além de figuras como a da minha amiga Angela Freitas, filha do visionário reitor da Anhembi Morumbi Gabriel Rodrigues, que me trouxe o convite para iniciar essa jornada, acho que existe um marco inicial muito simbólico em minha vida que já anunciava minha conexão com o mundo profissional da gastronomia. Em 1973, quando ninguém falava em hamburgueria ainda, meu pai, Décio Cecílio da Silva, depois de fazer carreira na indústria, decidiu empreender e abriu o Hamburguinho, que, hoje, é uma das hamburguerias mais antigas da cidade. Mesmo que inconscientemente, ele, com certeza, foi uma grande inspiração”, partilha.

 

Foto: @rosamoraes5

 

Moraes complementa que “também me inspiro muito nas grandes escolas com quem tenho bastante ligação, como a Paul Bocuse, em Lyon, na França, o Culinary Institute of America, no Hyde Park, em Nova York, e a futura Accademia Niko Romito, desse chef italiano que considero também um grande educador e cujo projeto estou acompanhando de perto. Tem ainda muitos chefs que me inspiram, mas assim, de pronto, penso na Alice Waters, que estava super em alta em 1989 com o Chez Panisse, quando me mudei para a Califórnia e me influenciou muito na questão do movimento orgânico, além de profissionais que sempre me apoiaram muito, como o Daniel Boulud”, elenca.

 

Experiências

 

Ao catalogar suas experiências, Moraes, que é membro de número 21 da Academia Brasileira de Gastronomia e que já recebeu prêmios como o Casa Boa Mesa, na categoria Educação da Boa Mesa, as classifica como “aprendizado e construção. Quando entrei nisso de cabeça, há 22 anos, o setor era muito diferente do que é agora. Quando abrimos a primeira turma do curso superior de Gastronomia, eram só 48 alunos, sendo a maioria com mais de 30 anos. Ou seja, pessoas que queriam mudar de carreira ou que só puderam fazer um curso superior em um período mais avançado da vida. Era difícil ter gente mais jovem, porque a profissão ainda não estava consolidada no Brasil. Os próprios pais ficavam muito desconfiados. Hoje, com a educação ajudando a profissionalizar e diversificar o mercado de atuação, as turmas são compostas também por estudantes que saem da escola já com a Gastronomia como primeira opção de carreira. Agora, temos um setor profissional consolidado de fato e o caminho para isso começou do zero e foi construído tijolo por tijolo. É uma experiência fundamental e que agregou para qualquer novo projeto meu, qualquer nova iniciativa”, avalia.

 

Rosa Moraes com alunos do curso de Gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi – Foto: @rosamoraes5

 

A especialista acrescenta que trabalhar com educação e formação profissional em Gastronomia, entre vários outros cursos hoje em dia, é “estar sempre em busca de evoluir e acompanhar as atualizações do setor para que nossos cursos e processos educacionais e profissionalizantes não se tornem obsoletos. Em um país em que a educação ainda é tão subestimada pelos governantes e, muitas vezes, sucateada pela falta de interesse e comprometimento com a real qualidade do ensino, ser educador é um desafio gigante. E é válido lembrar que educação não é só o aspecto técnico, mas também tudo aquilo que articula e ajuda o profissional a desenvolver competências socioemocionais, como resiliência, empatia, saber trabalhar em equipe, ter criatividade, sensibilidade. O mercado pede profissionais, cada vez mais, completos e a educação é o caminho mais assertivo para quem quer se manter competitivo e trabalhar por um ambiente de trabalho mais estimulante”, enfatiza.

 

Atuais projetos e missões sociais

 

Atualmente, Moraes continua a se dedicar à educação, mas, agora, revela que a sua atuação possui “um viés non profit na ONG Gastromotiva, do empreendedor social e meu grande amigo David Hertz. É uma iniciativa fantástica que apoiei ativamente desde a fundação. Hoje, tenho o orgulho e a felicidade de trabalhar com e por eles, não só na estruturação do futuro LAB de inovação em tecnologias sociais, mas também como uma frente em busca de novas parcerias e divulgação do trabalho da ONG. A Gastromotiva não só profissionaliza jovens em situação de vulnerabilidade social para que possam se inserir no mercado formal de trabalho, como atua no combate à fome por meio do Refettorio Gastromotiva e das Cozinhas Solidárias, que são projetos permanentes em comunidades de São Paulo, Curitiba e do Rio de Janeiro. Para ter uma ideia, desde o começo da pandemia de Covid-19, a ONG serviu 1,3 mil refeições por semana e arrecadou mais de 187 toneladas de insumos por meio de seu Banco de Alimentos. O desafio, agora, é conseguir executar esse trabalho a longo prazo, pois a fome foi acirrada pela pandemia, mas irá muito além dela, a gente sabe bem. Para que a Gastromotiva possa expandir sua atuação, tanto na frente educacional, quanto no combate à fome, é fundamental que haja uma articulação entre a sociedade civil, o Governo e a iniciativa privada, mantendo constante o fluxo atual de doações e conseguindo novos doadores. Temos muito trabalho pela frente e precisamos muito de ajuda”, ressalta.

 

Foto: Divulgação

 

Fora da linha social, a especialista dá “consultoria para o reposicionamento ou posicionamento estratégico de novas marcas no mercado, sou colunista da Vogue Gente Online e participo do planejamento de futuros projetos de eventos gastronômicos que vão ter que assumir novos formatos e meios de chegar ao público não só no contexto da pandemia, mas no cenário do pós-pandemia também. Os desafios do setor são grandes e numerosos”, pontua. Entretanto, ela esclarece que seu atual foco é me doar muito para a parte social e expandir ao máximo nessa atuação. Temos uma população muito grande que pode se beneficiar da gastronomia e da educação e, agora, a minha missão é trabalhar em prol desse crescimento ao lado da Gastromotiva”.

 

A Gastromotiva

 

Na visão de Moraes, a relação entre gastronomia e transformação social “é uma relação profunda e que perpassa toda uma cadeia. Só para ter uma ideia, a estimativa da ONU era de que, até o final de 2020, 5,4 milhões de pessoas passariam para a situação de extrema pobreza no Brasil por causa da crise econômica deflagrada pela pandemia de Covid-19. O total é de 14,7 milhões de brasileiros com fome. É, nesse contexto, que iniciativas de educação como a Gastromotiva arregaçam as mangas e se unem para levar comida e formação profissional a quem não tem acesso. A gastronomia, aliás, ajuda a regenerar economias locais, com o estímulo a pequenos produtores, oportunidades de trabalho, resgate de raízes culturais. É uma corrente de ponta a ponta, que se organiza em prol de transformações sociais verdadeiras e efetivas, considera.

 

Foto: @rosamoraes5

 

Criada por David Daniel Hertz, chef de cozinha de 48 anos, a Gastromotiva surgiu depois que ele conseguiu “viajar pelo mundo, ter me conectado com a comida e descoberto que isso era o que eu queria fazer na minha vida. Nessa fase, tive a oportunidade de me profissionalizar no curso tecnológico em Gastronomia em Águas de São Pedro. Trabalhei em grandes restaurantes, como o Café Santo Grão, mas não queria só fazer isso. Além do curso de tecnólogo, o Senac também oferecia um curso gratuito chamado Cozinheiro Básico para pessoas que não tinham condições de pagar por um curso de Gastronomia. Esse curso me inspirou a fazer o meu primeiro projeto social mais tarde. Conheci o conceito de Negócios Sociais do Prof. Muhammad Yunnus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, que me inspirou para adaptá-lo para o mercado da gastronomia e hospitalidade. Professor Yunnus criou o conceito de negócio social que transforma os negócios em serviço da sociedade, construindo uma economia circular e moral para combater as desigualdades. Ficou claro para mim que todos os negócios têm capacidade para gerar impacto social e ambiental.  Assim, em 2006, fundei a Gastromotiva na minha casa, com cinco alunos, a ONG que sempre focou em capacitação e alimentar as pessoas que mais precisam. Comecei a organização com a Uridéia, que foi minha aluna no projeto Cozinheiro Cidadão, que co-criei com o Instituto Lina Galvani em São Paulo (2004-2005). A ideia de criar um negócio social para a capacitação de pessoas veio depois que eu e a Uridéia participamos da Assembleia da ONU, em Nova York, nos EUA, em 2005, representando a Meta do Milênio nº 8 – Parcerias para o Desenvolvimento.  Já em 2008, dando aulas na Anhembi Morumbi e com o buffet ainda na minha casa, a Gastromotiva se tornou uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Algum tempo depois, separamos as coisas: eu segui com o curso de capacitação e a Uridéia com o buffet e continuamos seguindo nossa amizade. Ao longo dos anos, a Gastromotiva foi fazendo novas parcerias, conseguindo patrocínios e se expandindo para outras cidades do Brasil, Rio, Curitiba, e para o exterior”, detalha.

 

Rosa Moraes e uma das turmas do projeto Gastromotiva – Foto: Divulgação

 

Conforme Hertz, o seu atual propósito com a Gastromotiva é usar a gastronomia para mitigar desigualdades sociais e promover pontes e diálogos entre todos os setores da sociedade.  A Gastromotiva luta contra o desperdício do alimento e apoia o pequeno produtor, ao mesmo tempo que oferece formações profissionais para que os alunos se tornem empreendedores, educadores e mobilizadores para gerarem oportunidades locais e ações de combate à fome dentro de suas comunidades. São múltiplos impactos.  A Gastronomia social é a gastronomia que transforma vidas. Não importa se, hoje, alguns chamam esse movimento de Gastronomia solidária, inclusiva, socioambiental, pois o objetivo é o mesmo: ela é para gerar oportunidade para todos.  Eu acredito em uma economia local, consciente, criativa, circular e solidária. Para mim, renda é liberdade!  O desenvolvimento de uma comunidade é muito mais eficaz quando ele vem da própria comunidade. Pois, todos falam a mesma língua e entendem o que é viver com aquela dificuldade. Além disso, conhecem os desafios e oportunidades locais dos territórios, da favela, do bairro, e, assim, se unem e são pró-ativos para o bem coletivo. Temos como objetivo gerar oportunidades para essas pessoas e nossa missão é gerar impacto social por meio do desenvolvimento local e inclusão socioeconômica de indivíduos e comunidades”, explica.

 

Os cursos profissionalizantes da Gastromotiva, que aconteciam dentro das universidades parceiras da ONG e no Refettorio Gastromotiva antes do começo da pandemia de Covid-10, já formaram mais de 6.300 jovens. “Tivemos que redesenhar os cursos para o modelo remoto devido à pandemia. Assim, hoje, estamos com dois cursos remotos em andamento e um Banco de Alimentos funcionando no Refettorio Gastromotiva há um ano, na cidade do Rio de Janeiro, que já produziu mais de 470 mil refeições, resgatou cerca de 200 toneladas de alimentos, redistribuiu para mais de 60 organizações que as transformaram em mais de 380 refeições.  Outro projeto que surgiu devido à disseminação do Coronavírus foram as Cozinhas Solidárias Gastromotiva, que são a soma de todos os projetos e conhecimentos que adquirimos em 16 anos de jornada de empreendedorismo social”, conta Hertz.

 

Antes da pandemia, “a Gastromotiva já tinha uma rede estruturada de alunos que se tonaram cozinheiros profissionais ou empreendedores e compartilham dos mesmos valores que a organização. Eles têm uma mente empreendedora e educadora, baseados na confiança, colaboração, compaixão. O cozinheiro social é um empreendedor social. Ele mobiliza a comunidade e outras instituições, como igrejas, abrigos. Assim como, também faz parcerias com fornecedores e agrega à família e voluntários: vizinhos, amigos para produzir e distribuir. Ser cozinheiro social é ser um agente de transformação local.  Em 2020, foram mais de 475 mil refeições produzidas e servidas por eles. Atuamos no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Cidade do México. No momento, estamos desenvolvendo a segunda fase do projeto, que conta com uma bolsa de estudos para esses cozinheiros. Até o final de 2021, estaremos também em Fortaleza e Salvador. Para os próximos anos, a nossa intenção é expandir por todas as regiões do Brasil e alimentar 10 milhões de pessoas”, revela o cofundador da ONG.

 

Sobre o trabalho de Moraes junto à Gastromotiva, Hertz destaca que ela “sempre foi essencial! Primeiramente, testemunhou meu primeiro ano como empreendedor social na Favela do Jaguaré. Entramos juntos diversas vezes lá e aprendemos a cruzar pontes na sociedade. Com a sensibilidade da Rosa, aprendi a importância da qualificação profissional, principalmente, para os que não tem oportunidades. A Rosa foi a primeira pessoa do mundo acadêmico a abrigar as atividades da Gastromotiva na Anhembi Morumbi, assim como a promover a empregabilidade nos melhores restaurantes de São Paulo. Com ela, expandimos nossas ações para Salvador, em 2014, e fizemos diversos eventos. Me lembro, logo no começo de 2008, quando tivemos o primeiro curso profissionalizante no Campus Vila Olímpia da Anhembi Morumbi e a Gastromotiva foi a responsável pelo buffet da recepção do Bill Clinton. Esse foi só um de dezenas de eventos que a Rosa abriu as portas para nós. Já temos 16 anos de trabalho juntos e ela também já foi uma de nossas conselheiras. Digo sempre que o trabalho da Rosa é essencial, pois foi a primeira a acreditar no meu sonho, abrir portas, promover nossa causa e incorporar essa missão no seu coração. Atualmente, não poderíamos estar mais gratos, porque, com sua dedicação atual, ela nos dá direcionamento estratégico de comunicação e marketing, trabalha com a possibilidade de escalar todos os nossos projetos pelo Brasil e pelo mundo, além de transformar meus sonhos pessoais em realidades. A Rosa me traz conforto e me acolhe nos tempos de mais incerteza, me lembra sempre do porquê fazemos o que fazemos e está do nosso lado para mitigar as desigualdades sociais”, expressa sua gratidão.

 

Reconhecimento singular de mercado

 

Devido à sua pioneira e, a cada dia mais, ativa contribuição junto ao segmento de educação por meio da gastronomia, Moraes possui um reconhecimento singular por parte de diversos profissionais do ramo da alimentação e bebidas, sendo, inclusive, tida como referência para a grande maioria, como é caso de Milad Alexandre Mack Atala, o conhecido chef Alex Atala, eleito chef do ano pelo Guia Quatro Rodas em 2006 e proprietário do restaurante D.O.M. considerado o 6º melhor restaurante do mundo e o melhor da América do Sul, estando na célebre lista ‘The World’s 50 Best Restaurants’.

 

O Chef Alex Atala – Foto: Marcus Steinmeyer

 

Segundo Atala, Rosa, sem dúvida, é a pioneira na educação e formação profissional do setor de restaurantes, hotéis, alimentos e bebidas no Brasil. E, muito mais do que pioneira, é uma grande articuladora junto à imprensa, às entidades internacionais e mesmo junto à comunidade de chefs de cozinha.  É uma pessoa que consegue transitar, trafegar e unir efetivamente pontos extremos da cadeia de produção do alimento. Eu acho que o Brasil deve, pelo menos um, no mínimo, grande muito obrigado ao trabalho e ao legado da Rosa pelo esforço e desenvolvimento da cadeia do alimento e da formação profissional da educação”, assinala.

 

O Chef Laurent Suaudeau – Foto: Divulgação

 

Laurent Suaudeau, o mais renomado chef de cozinha francesa atuante hoje em dia no Brasil e fundador da Escola Laurent Suaudeau, também é outro fã de Moraes e de tudo o que ela e o seu trabalho educacional representam para a gastronomia brasileira. Rosa, sem dúvida, foi uma mulher muito guerreira ao liderar todo o processo de acreditar que a nossa profissão precisa ter uma relação com formação profissional. Ela foi a arquiteta do processo educacional na área da Gastronomia no Brasil. O seu trabalho, de uma forma geral, trouxe vários benefícios para enriquecer o mercado como um todo. Mostrou como é possível levantar a capacidade de raciocínio e de expressão de uma profissão que ainda peca por não ser registrada. Então, só posso bater palmas pelo trabalho que a Rosa fez com o primeiro curso de Gastronomia do Brasil e dizer que ela foi muito guerreira, porque a gente sabe que, quando você começa a liderar um trabalho deste nível, não é todo mundo que aceita suas sugestões. Com certeza, ela precisou um pouco remar contra a maré, mostrando todo o seu louvor e suas competências. Rosa, neste ponto de vista, é um exemplo para a própria profissão de chef de cozinha, por exemplo. Eu gostaria que, às vezes, algum chef homem tivesse essa garra de acreditar como ela o quanto essa profissão pode ajudar a melhorar não só o comer bem, mas o país como um todo a ter uma representação a ser respeitada pelas autoridades, o que está fazendo falta nesse momento. O trabalho social da Rosa enriquece ainda a questão cultural dos brasileiros, pois ajuda e muito os jovens a saberem o que eles são. Assim, por meio da cozinha, ela desenvolve o processo de cidadania”, reflete.

 

Legado que jamais será esquecido

 

A equipe da Universidade Anhembi faz parte de mais um público que admira e se inspira no legado de Moraes na área de educação voltada para a gastronomia. Prova disso é que, de acordo com Luiz Araujo, Gerente Acadêmico da referida instituição de ensino, ela é “como a pedra fundamental do Ensino Superior na Gastronomia do Brasil. Rosa teve uma visão do mercado futuro e conseguiu instituir e operacionalizar um curso, até então, impensado na nossa realidade. Ela trouxe, não só glamour para a Gastronomia brasileira, mas também fez com que o mercado e a educação atingissem níveis muito elevados, sendo mundialmente reconhecidos. Além disso, fez um trabalho incrível de relacionamento internacional e posicionamento do chef de cozinha como o ponto focal da gastronomia no mercado de alimentos e bebidas. Trouxe inovação, conhecimento e técnica para a Educação Superior em Gastronomia no Brasil”, atesta.

 

O Chef Luiz Araujo – Foto: Reprodução Folha de São Paulo

 

Araujo faz questão ainda de salientar que o “grande diferencial da formação superior em Gastronomia iniciada no país por Rosa é proporcionar uma visão ampla do mercado de trabalho e dos diferentes ramos de atuação. O nosso aluno recebe formação em todas as técnicas clássicas da gastronomia, além de entender sobre gestão, planejamento, estratégia, finanças, higiene alimentar e história das diversas culturas gastronômicas no mundo. Esse aluno, formado, se equipara a um profissional com mais experiência no mercado e que não teve a formação superior. Ou seja, ele entra no mercado em posições mais altas da carreira, além de conseguir destaque de forma mais assertiva justamente por causa do bloco de conhecimento diversificado e amplo e das soft skills adquiridas durante sua formação”, expõe.

 

Dicas de quem acompanha muito de perto o mercado

 

Devido à continuidade e o agravamento da pandemia de Covid-19 neste começo de ano no Brasil, os desafios de trabalhar com food service vem só crescendo e em diferentes esferas em prol do aprendizado constante de como sobreviver ao ‘novo normal’ e às adaptações para trabalhar de forma eficiente com os meios digitais.

 

Nesse cenário, Moraes, afirma que, “como sou muito próxima de chefs e empreendedores do setor no Brasil e no mundo, posso dizer, sem sombra de dúvida, que o maior desafio do ‘novo normal’ é saber se reinventar. A era digital não é uma questão, porque só agregou a quem soube se modernizar, lidar com aplicativos e plataformas de delivery, e-commerce. Foi mais uma questão de adaptação a algo que já iria acontecer, cedo ou tarde. Já o ‘novo normal’ é uma realidade que não estava prevista e parece ter vindo para ficar, ao menos por um bom e imprevisível tempo. Depois de um ano de pandemia, sobreviveram os negócios que souberam se reinventar, se regenerar, encontrar alternativas. No ‘novo normal’, querer que as coisas funcionem exatamente como antes pode ser um tiro no pé, infelizmente”, alerta.

 

Especificamente sobre a influência das mídias sociais nos negócios food service, a especialista orienta que “é preciso aprender a usar as mídias sociais a favor do negócio. São ferramentas extremamente acessíveis, com tutoriais simples e que possibilitam que o negócio converse com seu público sem limites espaciais. É uma onda da era digital em que só temos a ganhar, mas é preciso aprender a surfar. O mais interessante é que, ao contrário do que existia antes, quando o negócio se apoiava muito na divulgação feita por terceiros ou em canais específicos sobre os quais não se tinha controle, do boca-a-boca à mídia especializada, por exemplo, hoje, o negócio tem a comunicação direta com o público em mãos. O que você quer dizer, o que quer transmitir e de que forma quer conversar? Hoje, é o negócio que decide como quer se posicionar para o mundo, sem a necessidade de intermediários. E essa é uma oportunidade de ouro, mas que exige também muito empenho e aprendizado”, aconselha.

 

Foto: @rosamoraes5

 

Quando questionada sobre qual é o segredo para alcançar sucesso no atual mercado de alimentação fora do lar, Moraes garante que “atualmente, mais do que nunca, é ter resiliência, criatividade e empatia. Resiliência para suportar as ‘rasteiras’ no caminho, muitas vezes, inesperadas como a pandemia, por exemplo. Criatividade para encontrar soluções e inovar sempre que necessário, sem se apegar as antigas receitas ou regras muito rígidas que podem tirar de você a capacidade de se adaptar. E empatia para olhar para quem está construindo junto, quem ajuda o empreendimento a ser o que é. O setor de alimentos e bebidas é feito de pessoas para pessoas. Ele nasce da nossa necessidade mais básica, a de se alimentar, e deságua também nela, permeando nossa relação com a vida mesmo. Quem alimenta ou produz alimento, deve ter empatia, pois o humano é a razão de existir do negócio e também quem faz a engrenagem do negócio funcionar em cada etapa do processo”, orienta.

 

Particularmente para aqueles que ainda estão começando em carreiras no mercado food service, Moraes, por fim, reforça que o caminho é “sempre estudar e se atualizar. Esse é um mercado extremamente competitivo. Cada vez mais, quem der de ombros para a importância da formação e diversificação do conhecimento profissional na área vai perder espaço”, conclui.

 

Para conhecer mais sobre o atual trabalho de Rosa Moraes junto à Gastromotiva, acesse http://www.gastromotiva.org.

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