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O Vinho Nosso de Todos Os Dias

por Cláudio Pastor, articulista da Rede Food Service

Foto: Reprodução www.absrs.com.br

 

Não é novidade o crescimento do consumo de vinho no Brasil. Assim como era esperado o aumento de consumo de bebidas alcoólicas durante a pandemia. O que não se esperava era que este aumento atingisse números impressionantemente altos no segmento dos vinhos. Principalmente de vinhos nacionais.

 

Os dados referentes ao aumento de consumo dos vinhos nacionais são extremamente suculentos. Mesmo representando modestos 16% na preferência do consumidor brasileiro, o aumento no consumo de vinho nacional foi acima de 50% em 2020, se comparado ao ano anterior. No segundo trimestre de 2020, conforme a Ideal Consulting, nós brazucas consumimos 2,81 litros de vinho per capita, um crescimento de 72% em relação ao primeiro trimestre do mesmo ano.

 

O número é considerado um recorde para a indústria que historicamente registrava consumo inferior a 2 litros per capita. O aumento tão expressivo no consumo de vinho é explicado pelo fato de que as pessoas foram obrigadas a ficar em casa devido às medidas de distanciamento. Com mais tempo para preparar as próprias refeições e sem preocupações como dirigir após o “happy hour” ou jantar, por exemplo, acabaram elegendo o vinho como bebida companheira na pandemia. E quem já consumia o produto antes, aumentou a frequência durante a semana.

 

– O vinho é uma bebida intimista, para beber em casa, em casal ou em poucas pessoas. O pessoal começou a fazer comida em casa, e o vinho é a bebida que mais combina – acrescenta Orestes de Andrade Jr., presidente da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul (ABS-RS).

 

Há quem credite este aumento também em função do impacto das elevadas taxas de câmbio no preço dos vinhos importados, mudando assim as preferências de consumo. Mas a verdade não é bem assim, os importados também tiveram um modesto incremento de 8% em suas vendas durante 2020, mesmo com restrições fronteiriças (que impedem o contrabando) e dólar e euro chegando a patamares complicados.

 

Outro detalhe curioso, além do aumento no consumo, os apreciadores de vinho passaram a buscar mais informação sobre a bebida. A própria ABS dobrou o número de seguidores em uma de suas redes sociais, o que prova o interesse despertado nos últimos meses. Porém, mesmo com estas boas notícias para as vinícolas brasileiras, há também dados que não são dignos de um brinde.

 

O consumo de espumante nacional sofreu um duro impacto, apresentando quedas em torno de 30% ao longo do ano. Mesmo considerando que a qualidade de nossos espumantes vem sendo reconhecida, conquistando até mesmo alguns prêmios internacionais, não foram eles os preferidos pelo mercado. Acredito que a proibição dos eventos e festas, onde normalmente os espumantes eram consumidos em celebrações, tenha afetado fortemente a queda nas vendas. Convenhamos, não apenas pelos eventos mas, de um ponto de vista generalizado, há pouco para se comemorar num período tão complicado.

 

Falando em complicações, temos sempre de lembrar da criatividade para vencer as adversidades! O mercado de vinhos também teve seus desafios com a queda considerável nas vendas no canal on-trade, de bares e restaurantes, mas por outro lado, teve o aumento nos canais de venda online e supermercados. Campanhas como “Valorize o Vinho do Brasil“, as melhoras nas experiências de compra online, seja por sites ou por mídias sociais, ajudaram a motivar este aumento de consumo.

 

De acordo com a ABS, as vendas online de vinhos subiram acima dos 50% em 2020 x 2019, sendo responsáveis por 12% das transações no mercado de vinhos. Nem mesmo as proibições e não recomendações para aglomerações, impediram experiencias muito interessantes para os antigos e novos amantes dos vinhos.

 

Uma ótima ideia foi o projeto “Cave às cegas“ das sommeliers Gabriele Negri e Patrícia Binz, de Caxias e Farroupilha. As duas enviam um kit para o cliente com três vinhos escolhidos por elas, sempre de pequenos produtores da região, afim de valorizar os produtores locais. As garrafas são embaladas de maneira a não revelar o conteúdo, já que a ideia é que o consumidor deguste sem saber de que rótulo se trata. Junto, é enviado um material com ficha de degustação com orientações e informações sobre os vinhos, além de sugestão de harmonização. Depois de preencher a ficha, é possível verificar o gabarito a partir de um QRCode. Sensacional esta ideia!

 

Mesmo com números tão positivos, os proprietários de vinícolas ainda mantêm seus pés no chão. Certamente a nova valorização da cultura gastronômica “confort”, fortalecida pela companhia de um bom vinho, deixarão boas perspectivas para o futuro. Mas isso exigirá muita criatividade por parte dos empresários do segmento, além de formas inovadoras de manter contato com seus clientes. Com a extensão da pandemia, a economia continuará a sofrer e isso irá afetar, obviamente, o poder aquisitivo das famílias. Se por um lado a propensão ao consumo tende a cair nos períodos de crise, a tendência em buscar nossas raízes aflora em proporção interessante.

 

Enfim, mais uma vez, quem valoriza a qualidade da experiência de seus clientes, dá passos ainda mais sólidos para um futuro brilhante, mesmo em jornadas obscuras. Um bom vinho, uma boa comida e a companhia daqueles que amamos, sempre serão momentos cruciais para nos mantermos humanos.

 

Sobre o Autor:

Cláudio Pastor é Diretor Geral da RATIONAL Brasil, empresa alemã líder mundial em tecnologia de cocção. Em 2009, Cláudio fundou a subsidiária brasileira no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. Seus amplos conhecimentos sobre o mercado de foodservice se devem a experiência em diferentes áreas da empresa. Antes de assumir seu cargo atual, Cláudio trabalhou como Diretor de Marketing LATAM e Vice Presidente de Grandes Contas LATAM, assumindo a diretoria geral da RATIONAL Brasil em 2018.

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