Filho da Serra do Curral, nascido e criado em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em uma família com quatro irmãos. As lembranças são de casa cheia e com a mesa farta. Mesmo com raízes urbanas e sem referências do interior, sua alma é tipicamente mineira. Tanto que largou a carreira no Direito para se aventurar na Gastronomia. Assim, podemos resumir um pouco da vida de Caio Soter, que é quem hoje comanda a cozinha do Jardim Restô Bar, na capital mineira.
O chef, de 30 anos, define sua culinária como brasileira contemporânea, com fortes laços da afetividade da comida mineira, buscando valorizar os ingredientes e sua sazonalidade. Mas, foi bem longe de Minas Gerais e do Brasil que Soter viu a Gastronomia com outros olhos pela primeira vez e enxergou nela a possibilidade de uma profissão. Foi depois de uma experiência durante as férias da faculdade de Direito nos Estados Unidos que ele descobriu o amor pelas panelas.
Do escritório de advocacia para a cozinha
O ano era 2009 e o universitário estava nos Estados Unidos para um intercâmbio. Aproveitando uma oportunidade de trabalho, o estudante de Direito “caiu de paraquedas” na cozinha do Warren Miller Restaurant, do badalado clube privado Yellowstone Club, no Estado de Montana. Lá, ele começou lavando pratos e, depois, recebeu algumas oportunidades de cozinhar. Ali, nascia o primeiro despertar, do hoje chef, para a Gastronomia.
Porém, voltando para a terra natal, a paixão pela culinária virou apenas um passatempo. “Quando eu voltei para o Brasil, ficou como hobby mesmo, porque a gente não via o cozinheiro como uma possibilidade de profissão. A gente é muito fechado nessas carreiras mais clássicas, como Medicina, Direito, Engenharia. Continuei minha faculdade, me formei e comecei a advogar”, relembra Soter.
Oito anos depois, uma nova descoberta viria para mudar o rumo da carreira do mineiro. Em 2017, ele foi apresentado ao dry aged, o envelhecimento de carne a seco, por meio de um documentário da Netflix. Por curiosidade, o então advogado começou a fazer o processo em casa. A brincadeira acabou se tornando um negócio: a Umami Steaks, a primeira empresa a realizar a maturação a seco em cortes bovinos de Minas Gerais.
A Umami foi a porta de entrada de Soter para o mercado da Gastronomia. Com o negócio, ele teve a oportunidade de conhecer e trabalhar com grandes chefs mineiros, como Felipe Rameh, Flávio Trombino, Fred Trindade e Felipe Galastro, até que veio de um deles um convite especial que o fez largar o Direito de vez. “Comecei a vender para restaurantes e fui entrando cada vez mais na Gastronomia. Pedia para cada chef me ensinar uma coisa. Até que, no final de 2018, Felipe Rameh me convidou para assumir a chefia do Alma Chef. Eu aceitei o convite”, conta.
Revelação do ano
Fundado em 2014 por Felipe Rameh e Thiago Guerra, o Alma Chef se tornou referência em Gastronomia na capital mineira. Porém, Soter assumiu a cozinha do renomado empreendimento em um momento delicado para a empresa. “O restaurante não passava por uma fase boa, então, tinha uma pressão muito grande e eu entrei com a responsabilidade de levantar o lugar. Eu sabia que era o que eu queria, assim, eu ‘meti a cara’, montei uma equipe muito boa e a gente conseguiu fazer um trabalho legal lá no Alma. Um trabalho que eu me orgulho muito”, conta o chef.
Tanto fez um trabalho legal, que sua performance no restaurante lhe rendeu o prêmio de Chef Revelação da cidade em 2019 pela revista Encontro Gastrô.
Soter ficou à frente do restaurante até o encerramento definitivo das atividades do local, em setembro do ano passado. A notícia veio três meses depois de uma pausa dos trabalhos por causa da pandemia de Covid-19. O chef relata que foi difícil dirigir o fechamento da empresa, que foi um marco em sua carreira. “Eu era super apegado com o Alma, lugar onde eu construí a maioria dos meus pratos, que o público reconhece hoje. O fechamento para mim foi muito duro. Eu passei dois dias em casa chorando, foi igual término de namoro. A gente tentou durante a pandemia segurar, mas ele tinha um custo fixo muito alto, com muitos funcionários. Mas, foi um encerramento muito legal, foi um lugar que levou muito aprendizado para todo mundo que passou ali. Então, eu levo muita gratidão e carinho do Alma”, diz o chef ao recordar sua passagem pelo restaurante.
Mestre do Sabor
Em 2020, enquanto ainda trabalhava no Alma Chef, Soter recebeu o convite para participar do programa global Mestre do Sabor. Durante o reality show gastronômico, chefs experientes precisam mostrar os seus talentos e têm os trabalhos avaliados por renomados jurados, entre eles, o também mineiro Léo Paixão.
Mesmo relutante no início, o chef aceitou o convite da Globo e embarcou em mais essa experiência. Após a passagem pelo local, ele define o aceite como ‘a melhor coisa que fez’. “Para mim, foi muito legal participar, porque quando a gente é chef de cozinha, a gente fica longe do fogão, cozinha pouco. No programa, a gente tem uma oportunidade única de se reconectar com esse nosso cozinheiro interior. Não tem ninguém para auxiliar. Então, foi uma oportunidade muito legal de mostrar como eu sou como cozinheiro”, diz Soter.
Como não podia deixar de ser, o chef fez questão de resgatar as raízes da culinária mineira ao preparar o seu ‘arroz de quintal’ na prova de entrada do programa da Rede Globo. O prato, que é um arroz com costelinha de porco, moela de frango, picles de maxixe e tela de milho crioulo, traz a história da cultura de subsistência. Soter diz ainda que fez questão de valorizar sua terra natal durante a sua participação. “Foi muito legal poder mostrar para o Brasil a cozinha mineira. Eu era o único mineiro da minha edição. Fora a visibilidade que deu voz ao trabalho que eu faço”, avalia.
Novos rumos
Com o encerramento das atividades do Alma Chef, Caio Soter recebeu o convite para comandar a cozinha do Jardim Restô bar, também na capital mineira. A casa previa abrir ao público em março, mas a pandemia atrasou os planos e o chef assumiu o restaurante em setembro.
Na cozinha do Jardim, o arroz de risoto não tem vez. Quem ganha o protagonismo é o brasileiríssimo agulhinha. No cardápio, Soter traz nos pratos a sua assinatura com sabores nacionais, que fazem parte da memória afetiva dos clientes. Ele explica que essa identificação com a filosofia do empreendimento foi fundamental para executar suas criações. “Me deram carta branca para fazer o que quiser, o que é algo muito importante para mim. Como faço um trabalho autoral, é importante eu poder mostrar a comida do jeito que acredito que é melhor. Então, tive essa identificação muito forte com o conceito da casa, com o tipo de comida que eles queriam servir”, destaca.
Sobre o futuro, Soter adianta que abrir o próprio espaço estão nos planos. “Tenho vontade de abrir um restaurante meu. Este ano, vamos ter novidades sobre isso. Eu não posso adiantar, mas, provavelmente, vamos ter um espaço só do Caio Soter em 2021. O que não significa que eu não estar no Jardim”, revela o chef.
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