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Uma imagem vale mais que mil palavras também no mercado food service

Fotografia de alimentos já é tida como uma das melhores estratégias para atrair os clientes em meio à era digital intensificada pela atual pandemia de Covid-19

Foto: Denis Sonoda

 

Em meio à era digital intensificada pela atual pandemia de Covid-19, a fotografia tornou-se uma das melhores estratégias para atrair os clientes no mercado de alimentação fora do lar.

 

Nesse cenário, a expressão popular de autoria do filósofo chinês Confúcio de que ‘uma imagem vale mais que mil palavras’, criada por ele para transmitir a ideia do poder da comunicação por meio das imagens, é mais do que apropriado ao setor food service de hoje em dia. Afinal, a foto tem sido o primeiro contato dos consumidores com os pratos ofertados pelos restaurantes, bares e lanchonetes que trabalham com a venda em formato delivery.

 

Três profissionais, de regiões diferentes do país, contam um pouco do que é ser fotógrafo no segmento de Food Service, o que envolve este trabalho e o momento que vive o mercado.

 

Prática que exige mais do que talento

 

Que, muitas vezes, um clique tem sido mais valioso que até o aroma e o sabor no novo mercado food service, não há dúvidas. Mas, como funciona a fotografia de alimentos? Quais são seus maiores desafios e oportunidades?

 

Carlen Gonçalves (Foto: Arquivo Pessoal)

 

De acordo com Carlen Fonseca Gonçalves, fotógrafa, professora universitária, gerente na empresa FotoCarlos em Patos de Minas, interior de Minas Gerais, fotografar alimentos exige “muita criatividade, uma edição bem feita para garantir a satisfação do cliente e o seu diferencial como profissional.  Vejo como importante também o bom atendimento ao cliente para entender e saber direcionar as fotografias, a entrega dos trabalhos dentro do prazo estipulado. Conseguir um bom resultado nas imagens de alimentos não é tão fácil. Deve-se observar a temperatura, a quantidade, a iluminação e a forma de posicionar. A harmonia das cores, que são necessárias para transmitir serenidade e ‘gostosura’ para o expectador. É necessário fazer com que as pessoas olhem para as fotos e sintam vontade de ter aquele alimento em mãos e, óbvio, degustar. Essa é a nossa ‘mágica fotográfica na alimentação’”, explica.

 

Denis Sonoda (Foto: Diego Belop)

 

Para Denis Sonoda, fotógrafo paulista bastante procurado por proprietários de restaurantes, cafés, bares e produtores in natura para produzir conteúdo para mídias sociais, catálogos e também cardápios e que já fotografou os pratos do conhecido chef Erick Jacquin, “a fotografia do cardápio deve ser diferente da fotografia da rede social. Alguns trabalhos meus já foram publicados em mídias como Veja, Marie Claire, Estadão, etc. Também já vendi fotos para clientes na África do Sul, Irlanda, Inglaterra. Além de trabalhos com chefs de cozinhas, como o Erick Jacquin, por exemplo. Fotografar alimentos é mais difícil. Além de trabalhar técnicas como cor, textura, nitidez, enquadramento, luz e sombras, o desafio é sempre incluir uma dose artística para se ter um resultado atual, autêntico, personalizado e que desperte o desejo do consumidor. O pré-foto, como toda a produção, também é uma etapa que exige planejamento”, pontua.

 

Sonoda frisa também que “a fotografia ligada ao mercado food service exige um pouco mais de paciência e planejamento. É preciso conhecer e respeitar o tempo de cada alimento. Fotografar um sorvete é diferente de fotografar um cheeseburger, por exemplo. Muitas vezes, o sorvete começa a derreter no meio da sessão ou o colarinho do chopp não é mais o ideal. É preciso ter paciência para refazer até que fique perfeito. Gera custos e, infelizmente, desperdício de alimentos. Isso me incomoda e tento otimizar o máximo para que isso não aconteça. Além disso, reproduzir a fidelidade de cor é fundamental. O vermelho do tomate, o verde do alface, o amarelo do maracujá. Qualquer variação pode influenciar no resultado final, que é sempre despertar o desejo do consumo”, detalha.

Marina Rosas (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Marina Rosas Rachid Jaudy, cineasta, fotógrafa, gastróloga e sócia-diretora do Mistura Stúdio, em Natal no RN, acrescenta que “fotografar alimento é mais difícil que outras áreas, no meu ponto de vista, já que o fotografo não tira só a foto. Ele tem que cuidar do objeto a ser fotografado, sem alterar a criação do chef (regra básica de um fotografo gastronômico). E, se for necessário, modificar algo, sempre com a autorização do criador do prato, o que deixa nossa criatividade focada no cenário em volta do produto. Além disso, na maior parte das vezes, o cliente não têm orçamento para contratar a equipe completa  (produtor de objetos, assistente de fotografia e foodstyling). Ou seja, temos que cuidar do produto do começo ao fim, começando pelo foodstyling, que é um cargo realizado por chefs de cozinha que, nos EUA, é uma área já mais conhecida e comum. Depois, precisa atenção à produção de objeto (mais utilizado na área audiovisual) e, por fim, a foto. E o fato desse profissional exercer três funções em uma o torna um diferencial no mercado, pois existem muitas técnicas especializadas para cuidar do alimento em cada área e formas de fazer uma comida ‘saltar’ na foto, se destacar”, partilha.

 

Mercado crescente

 

Apesar do fato dos especialistas revelarem que fotografar alimentos não é um trabalho fácil e que exige muito mais do que talento, eles garantem que essa profissão é parte importante de um mercado que está em crescimento. “Atualmente, os clientes do mercado food service têm se tornado mais exigentes. Para vender bem um produto, é necessário ter qualidade e, claro, ter a informação necessária para que chame a atenção do público-alvo. O uso de imagens para as empresas desse segmento tem se tornado essencial, pois a valorização visual dos produtos é, cada vez mais, significativa. A fotografia alimentícia tem crescido muito na atualidade. A cada dia, as pessoas estão alimentando fora de seus lares, buscando praticidade e conforto ao pegarem a comida ‘prontinha’ e saborosa com a rapidez de um restaurante. Assim, o mercado gastronômico tem ampliado as fotografias de forma que seus clientes queiram a comida ‘igual’ a da fotografia mostrada na publicidade. Tanto a fotografia de alimentos, quanto a fotografia dos ambientes de bares, restaurantes e lanchonetes são importantíssimas para a divulgação e a atração dos consumidores para o seu negócio. Atualmente, o Instagram se tornou a ferramenta de marketing digital mais utilizada pelas micro, pequenas e medias empresas, sendo uma rede social baseada na fotografia. É fundamental o uso e desenvolvimento de estratégias dessa ferramenta para qualquer área. Por isso, dentro das disciplinas que ministro no Ensino Superior, sempre aplico atividades que utilizam alimentos, ambientes comerciais, dentre outros. Pois, como diz o ditado popular ‘primeiro, nós comemos com os olhos”, salienta Carlen.

 

Foto: Denis Sonoda

 

Sonoda, por sua vez, considera que “o mundo mudou. A beleza sem grandes edições, a autenticidade, a espontaneidade são as tendências, assim como novas abordagens de formas estereotipadas. Não apenas no mercado food service, mas a fotografia tem o poder de influenciar e manipular as pessoas e suas opiniões. Se hoje você não consome produtos e serviços digitais, você está muito atrasado. Por outro lado, a facilidade em fazer foto com celulares tornou o mercado saturado. Vejo muitos negócios que não investem em fotografia profissional e acabam passando despercebidos no feed. É muito do mesmo. O que te faz parar quando está rolando seu feed para baixo? O seu cliente não tem o mesmo carinho pelos seus produtos que você. Ele apenas quer comer bem, pagar o valor justo e ter uma experiência agradável. Além disso, saber que o restaurante investe em fotos é saber que ele se preocupa com a qualidade do pão, do queijo, do atendimento e da entrega. Além disso, a pandemia mostrou que podemos ser smart. Trabalhar, consumir, comprar e vender com poucos ‘clicks’. E a fotografia tem o papel de aproximar ao máximo essa experiência à compra presencial. A realidade virtual, como o próprio nome diz, é uma realidade. Já podemos entrar em shoppings, lojas, andar pelas ruas na Europa e Ásia por meio de um óculos 3D. Em breve, vejo novas experiências, como sentir cheiros, temperaturas, novas sensações. A tecnologia não para e isso é maravilhoso”, prevê.

 

Foto: @misturastudiorn

 

Já Jaudy avalia que “o mercado food service é vasto e cada área demanda um tipo de fotografia e peculiaridade, mas, pela minha experiência, o maior diferencial é a riqueza de detalhes que um produto tem, as técnicas que utilizamos para deixar o alimento mais apetitoso e fresco, extraindo o seu máximo potencial, já que o objetivo da foto é a venda. Exemplo: quando grandes corporações contratam, normalmente, estão apoiados por uma equipe de marketing ou/e uma agência de publicidade. Sendo assim, o briefing tem uma riqueza de detalhes incrível, tornando nosso trabalho desafiador, pois temos que levar em consideração detalhes que irão fazer parte da produção dessa foto, como criar espaço para algo que não está fisicamente no set, exigência de cor, fundo, objetos em cena e assim por diante, uma vez que, na maioria das vezes, essas fotos estão alicerçadas a uma campanha, onde o design já foi pré-estabelecido. As mídias sociais vieram para trazer inúmeras possibilidades de transmitir a experiência à distância. Sendo assim, elas são grandes aliadas da fotografia de alimentos. Criam uma necessidade de melhora na qualidade das fotos dos estabelecimentos, levando à busca de um fotografo especializado. Magicamente, criamos um círculo virtual e virtuoso, gerando conteúdo para as redes sociais do local, do estúdio”, divide.

 

Trabalho em grupo

 

Por fim, os especialistas revelam ainda que o sucesso de uma fotografia de alimentos está diretamente atrelado ao trabalho em grupo. “Um bom fotógrafo de alimento é só 50% do trabalho de uma foto. Se o chef entrega um prato com diversidade de cores, texturas, alturas e contrastes, a foto está quase pronta, porque a beleza não é criada por nós, a gente só ressalta o belo, valoriza a curva, intensifica o brilho, escolhe a melhor luz, melhora a textura. Nós fotógrafos extraímos o frescor do prato, o apetite e nada mais. O chef traz a alma da foto, nós só captamos da melhor maneira a arte criada por ele. A fotografia representa momentos da nossa vida, em forma de arte ou documento. Está sempre captando os momentos gloriosos e desastrosos da humanidade, o que a torna uma arte bela e singular. A foto é um fragmento de um filme íntimo e real, que é retomado anos depois, por meio da imaginação, transportando a pessoa para o momento do ‘click’. Isso é muito gratificante! Na fotografia de alimento, não é diferente, captamos um momento do produto, uma criação, uma fase de um chef. Eternizamos os melhores pratos, as melhores receitas, os melhores chefs, restaurantes. Nós fotógrafos trazemos em uma imagem todas a emoções que o prato quer deixar para que o cliente fique com água na boa e queira experimentar. Assim, o ciclo se inicia, a foto chama o consumidor, ele conhece o local e o produto e, depois, ele tira uma foto, comenta sobre e instiga outra pessoas a conhecerem e assim por diante. A foto é um gatilho para um mundo de sabores e experiências gastronômicas, onde um ‘click’ vale mais do que uma mordida!”, considera Jaudy.

 

Foto: Denis Sonoda

 

Conforme Sonoda, para tirar uma boa fotografia de alimentos “é preciso entender que a fotografia deve ser bonita e não saborosa. Muitas técnicas de manipulação como óleo de carro para simular uma calda de caramelo, purê de batata com corante para simular sorvete de massa. Uma produção e ambientação que condiz com seu produto e estratégia do marketing são responsabilidade do chef e seu capricho. O resto, é comigo”, conclui.

 

Na Rede Food Service é assim. Sempre trazemos novidades e tendências do mercado de alimentação fora do lar com a intenção de fomentar a gestão dos negócios do setor. Então, continue nos acompanhando!

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