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Fundação ajuda mercado de food service a promover acessibilidade de produtos e serviços

Com o objetivo de difundir a inclusão e tornar a sociedade mais igualitária, a Fundação Dorina Nowill cria soluções para empresas atenderem pessoas com deficiência visual

Embalagem do sorvete Cremosíssimos em braille (Foto: Kibon Divulgação)

 

Trocar o sal pelo açúcar ou comprar cerveja em vez de refrigerante são cenas recorrentes na vida das pessoas com deficiência visual. Mas já existem instituições que auxiliam restaurantes e marcas do ramo de alimentos a se adaptarem para facilitar o dia a dia destes consumidores.

 

Na casa do Ademilson Costa são três compradores cegos: ele, a esposa e a enteada. O paulistano de 32 anos nasceu com catarata congênita e, há quase 20 anos, teve retinose pigmentar, uma doença ocular rara que o levou à cegueira. E foi exatamente nessa época que ele teve seu primeiro contato com a Fundação Dorina Nowill para Cegos.

 

Ademilson Costa – Foto:Fundação Dorina Nowill – Divulgação

 

Com mais de 70 anos de história, a instituição trabalha para que pessoas com deficiência visual sejam incluídas em diferentes cenários e capacita a sociedade para recebê-las. Atualmente, o Brasil tem uma população de 6,5 milhões de cegos, segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a inclusão desse público ainda é um desafio para as diversas esferas sociais.

 

Responsável por um dos maiores parques gráficos de braille no mundo, a fundação é referência na produção e distribuição de materiais nos formatos acessíveis. Alfabetizado pelos livros disponibilizados pela Dorina Nowill, Adelmison teve sua primeira oportunidade de trabalho também no local. Há 12 anos como consultor, ele trabalha em testes e validação de acessibilidade. “Falar da fundação hoje pra mim é muito importante, porque ela acabou abrindo as portas para a minha inserção na sociedade e no mercado de trabalho”, afirma.

 

Prédio onde fica a Fundação Dorina Nowill na Vila Mariana – SP Foto: Divulgação

 

A instituição leva o nome da sua idealizadora Dorina de Gouvêa Nowill, que ficou cega repentinamente aos 17 anos em decorrência de uma doença não diagnosticada. Ela foi a primeira aluna com deficiência visual a frequentar um curso regular no Brasil e, desde então, se dedicou à inclusão e à luta pelos direitos dessas pessoas. Ao perceber a falta de livros em braille no país, criou a fundação em 1946 para a produção e distribuição de publicações acessíveis. Dorina faleceu em 2010, aos 91 anos, deixando um grupo capacitado à frente dos trabalhos para a continuação do seu legado.

 

 

Soluções em Acessibilidade

 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada cinco segundos, uma pessoa fica cega no mundo. É uma parcela da população que deseja ser inserida na sociedade e busca por autonomia nos âmbitos mais diversos do dia a dia, incluindo o direito de comprar. Nesse contexto, levantam-se questionamentos se os negócios espalhados pelo Brasil encaram esse grande público como potenciais consumidores e pensam em soluções para deixarem seus produtos e serviços acessíveis.

 

Uma das frentes da Fundação Dorina Nowill é oferecer recursos sob medida para os mais diversos variados perfis de clientes. Acessibilidade de sites e aplicativos, consultoria arquitetônica, audiolivros e capacitação customizada são alguns dos trabalhos da instituição.

 

Cardápio em Braille Foto: Fundação Dorina Nowill – Divulgação

 

Outra solução produzida é o cardápio transcrito em braille para restaurantes, bares e lanchonetes. A disponibilização do material acessível nas mesas dos estabelecimentos se tornou obrigatória na cidade de São Paulo após a lei número 12.363, de 13 de junho de 1997. A gerente de Soluções em Acessibilidade da fundação, Carla De Maria, afirma em entrevista para a Rede Food Service, que o trabalho vai além do legal. “A gente atua para poder levar na diretriz legal, mas também como conscientização da sociedade com foco na acessibilidade atitudinal. Preparar a sociedade para receber essas pessoas que são consumidoras e que elas possam ter autonomia”, destaca.

 

Sorvetes em Braille

 

No processo de inclusão de marcas do ramo alimentício, a Kibon ganhou notoriedade em uma ação desenvolvida para um de seus sorvetes. A empresa anunciou em 2019 as novas embalagens da linha Cremosíssimos, que passou  a ter sabores e marca identificados também em braille. A iniciativa, em parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, representou um marco no mercado, já que foi inédita para a Kibon e para a Unilever no Brasil.

 

Embalagens dos sorvetes Cremosíssimos em braille Foto: Kibon – Divulgação

 

A repercussão foi tão positiva que a empresa apostou na parceria com a fundação e ampliou a transcrição para outros produtos. Bruno Rocha, supervisor comercial de Soluções em Acessibilidade da instituição, atuou diretamente nos projetos e conta que “a ideia da marca era fazer uma ação pontual, em uma embalagem específica do sorvete, mas, com a repercussão, expandiu para outras linhas do produto”.

 

Bruno avalia que ações como a da Kibon devem servir de exemplo para outras marcas, já que a acessibilidade ainda é um desafio no mercado nacional. “Isso mostra para as empresas que existem possibilidades. Deixa a marca um passo à frente pela questão de visão deste público. Para as pessoas com deficiência visual é um ganho ainda maior. A gente aqui no Brasil ainda está muito distante de uma realidade acessível. É um ganho gigante. A pessoa se sente incluída”, destaca.

 

Pelo ponto de vista do consumidor, Ademilson analisa como um avanço para que pessoas com deficiência visual ganhem cada vez mais autonomia. “Para a empresa é muito importante ter seus produtos acessíveis a um número maior de consumidores em relação aos seus concorrentes. É muito bom para a marca, porque mostra que realmente ela tem um olhar especial, ela enxerga o potencial do seu consumidor com deficiência. Mas eu vejo isso mais do que uma questão de Marketing. Eu vejo como realmente um avanço, um passo muito expressivo. A gente quanto consumidor cego, entrar em uma revendedora ou um supermercado para comprar um sorvete da Kibon e ter uma identificação em braille, traz uma autonomia. Não vou precisar de uma intervenção humana para ajudar”, finaliza.

 

Na Rede Food Service você sempre fica sabendo de todas iniciativas importantes do mercado

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