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Vida loka é coisa do passado!

Pandemia de Covid-19 muda relação entre consumidores e entregadores

Edgar Francisco da Silva, presidente da AMABR

Vida loka! Assim, os motofretistas e motoboys que trabalham com o serviço de entrega costumam ser tachados por grande parte dos brasileiros, certo? Sim, mas isso antes da chegada do novo Coranavírus ao Brasil. Isso mesmo! Vida loka, agora, é coisa do passado!

 

Além do aumento significativo do serviço delivery, principalmente, de produtos de alimentação durante o período social, a pandemia também já vem mudando a relação entre os consumidores e os entregadores. Afinal, a categoria está, literalmente, na linha de frente para matar a fome daqueles que não podem sair de casa devido ao período de quarentena. E isso já vem sendo reconhecido por grande parte da população, que passou a valorizar mais o serviço do motofretista e motoboy, que, antes, chegou até a ser marginalizado por alguns.

 

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, por exemplo, a população criou uma campanha com o objetivo exatamente de promover o maior reconhecimento dos motofretistas e motoboys. Por meio da ação, realizada e rapidamente disseminada para outras cidades brasileiras nas mídias sociais, foi proposto que os consumidores solicitassem um lanche, mas que o pedido fosse ofertado como presente para o próprio entregador em agradecimento ao seu trabalho. Além disso, a Federação Internacional de Motociclismo (FIM) lançou uma campanha mundial com o intuito de estimular os motociclistas, sejam pilotos ou amadores, ou seja, aqueles que não fazem entregas, a deixarem suas motos na garagem e ficarem em casa durante a pandemia. Com a hashtag #RidersAtHome, pilotos em casa ou motociclistas em casa em tradução livre no português, a FIM divulgou que seu intuito é reforçar a mensagem da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que as pessoas fiquem em suas residências e, assim, ajudem no combate da disseminação do Covid-19, inclusive, para aqueles que não pararam de trabalhar, como os motofretistas e motoboys.

 

Em meio a esse novo cenário de reconhecimento dos motofretistas e motoboys, os novos aplicativos de transporte com moto, como iFood, Uber Eats, Loggi, Rappi, entre tantos outros, vem facilitando e até incentivando o bom momento para a categoria. Prova disso é que levantamento feito pelo Instituto Locomotiva apontou que as compras feitas por meio de aplicativos cresceram 30% no Brasil só no primeiro mês de isolamento social. Além disso, estudo realizado pela Rede, empresa de meios de pagamentos do Itaú, constatou que o delivery de compras brasileiro aumentou 59% devido ao momento de quarentena. Assim como, o Rappi já divulgou à imprensa que registrou um aumento significativo no número de pedidos em toda a América Latina, sendo que, só nos dois primeiros meses de 2020, a demanda sul-americana pelos serviços da startup cresceram 30% em relação ao mesmo período de 2019 e as entregas de restaurantes, supermercados e farmácias foram os destaques. Já o iFood, Uber Eats e Loggi ainda não revelaram seus números alegando que ainda é muito cedo para uma mensuração assertiva.

 

Nem tudo ainda são flores!

Edgar Francisco da Silva, presidente da AMABR – Divulgação

De acordo com Edgar Francisco da Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), nem tudo ainda são flores. “Os clientes estão nos tratando melhor e reconhecendo a importância dos nossos serviços. Muitos clientes colocaram álcool em gel e deram acesso ao banheiro para lavar as mãos. Antes, não era assim! O entregador tinha que ficar do lado de fora e ser notado o mínimo possível. O reconhecimento vem, como sempre de uma minoria. A maioria te trata como um número! O tratamento mudou um pouco por causa da atual dependência que eles têm dos entregadores. Mas, sabemos que é momentâneo. Logo, ainda mais quando abrirem para o público, volta tudo ao normal: ‘fiquem no caminho onde os clientes não vejam vocês’ ou ‘entra lá por trás do restaurante’. Sempre foi assim! A caixinha teve um grande aumento nesse período que estamos sendo extremamente necessários para ajudar com que o cidadão fique em proteção na sua casa. A caixinha é bem-vinda, agradecemos imensamente esse lindo gesto de reconhecimento do cliente para com o entregador. Mas, por outro lado, é uma forma dos aplicativos se esquivarem de melhorar os valores das taxas de entrega. Somente nós que estamos na rua diariamente sabemos o que passamos, fazendo diversas entregas desvalorizadas, muitas vezes, pagando para trabalhar, deixando de almoçar para comer lanche na rua. Isso faz mal para saúde a longo prazo. Há situações em que o entregador deixa de substituir uma peça quebrada da moto por uma original por não ter dinheiro para comprar. Muitas vezes, tendo que colocar uma peça paralela, de qualidade duvidosa ou até mesmo fazer gambiarras para rodar com a moto por não ter dinheiro. Isso coloca em risco a vida do entregado e de outros usuários da via, inclusive pedestres. Não podemos depender apenas das caixinhas para fazer a manutenção adequada. Precisamos ganhar melhor pelos nossos serviços. O custo e despesas são altos!”, pondera.

 

Silva, que é conhecido pela categoria como ‘Gringo’, complementa que, desde o começo da pandemia de Covid-19 “estamos com extrema preocupação. O Covid-19 é um vírus que já mostrou seu poder de letalidade em outros países e vem fazendo o mesmo aqui no Brasil, com os que não tomam o devido cuidado de proteção. Por isso, fizemos o alerta do risco pelas nossas redes sociais com mais visibilidade. Sugerimos que ficassem em casa todos que tivessem condições financeiras para aguentar passar por essa pandemia, principalmente, os que são do grupo de risco. Quem não puder ficar em casa, porque precisa trabalhar, que tomem todos cuidados necessários para não se contaminar e também para não virar um transmissor do vírus para os seus familiares e nem para os clientes. Fizemos denúncias na mídia por falta de EPIs para trabalhar e pedidos de ajuda da sociedade para ajudar a cobrar os aplicativos que usam nossos serviços para auxiliar na proteção. Mandamos ofícios pedindo ajuda com orientações e EPIs para o Governo e prefeituras. Também cobramos os EPIs de alguns dos maiores aplicativos e mais orientações específicas”, afirma.

 

Silva revela ainda que “de certa forma, a pandemia deu uma abalada no psicológico de todos nós. Se alguém tossir ou espirrar, já é um motivo para atrair o olhar de todos. A preocupação de pegar esse vírus mudou a rotina de todos. Ninguém mais chega em casa com tranquilidade e conversa com a família como era antes. Agora, faz parte dessa nova rotina tirar as roupas e acessórios usados no trabalho antes de entrar em casa. Ir direto para o banheiro antes de tudo e, só após o banho, que vai ter contato com a família”, relata.

 

Concorrência ‘de loko’

 

Enquanto os motofretistas e motoboys passaram a ser mais valorizados pela população em decorrência da pandemia de Covid-19, agora, a concorrência entre a categoria é que virou ‘de loko’. “A concorrência está coisa de louco. Primeiro, o Governo não faz a Lei do Motofrete funcionar e muito menos incentiva. Segundo, os aplicativos não exigem praticamente nada para ser um entregador e isso faz com que qualquer um venha para essa área, sem regras e sem muitas exigências. Geralmente, vem porque está desempregado ou já tem seu serviço e vem fazer renda extrema ou por causa da situação mais recente, que é o fechamento dos comércios e empresas. Muitos migraram para os aplicativos para ter alguma renda. Porém, alguns chegam a pagar para trabalhar. Essa onda de novos entregadores saturam as plataformas e ninguém ganha dinheiro, a não ser os aplicativos e seus investidores.  O motofretista que investiu muito tempo de capacitação, dinheiro, se legalizou e vive como única fonte renda dessa profissão está sofrendo muito com essa concorrência e desvalorização. Cada dia ficando pior!”, lamenta Silva, da AMABR.

 

Na Rede Food Service é assim! Te atualizamos sobre as mudanças de mercado, sempre dando voz a quem faz tudo acontecer no mercado food service e, em especial nesta diretoria, no serviço delivery. É motofretista ou motoboy? Sempre trabalhou com entrega de alimentos e bebidas? Entre em contato conosco e conte qual é a sua história em tempos de pandemia de Covid-19. Será um prazer te ouvir e partilhar a sua visão do atual momento para a sua categoria.

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