Café, bebida presente em quase todas as refeições do dia de um brasileiro, não é mesmo? Tanto que o país já ocupa a segunda posição como o maior consumidor de café do mundo.
Seja na primeira refeição do dia, durante o horário de trabalho, depois do almoço, no lanche da tarde ou até mesmo depois do jantar, tomar um café faz parte da rotina e da história dos brasileiros, que, conforme pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), já têm o café coado como o preferido entre tantos outros tipos existentes da bebida.
De acordo com os dados recentemente divulgados pela Abic, o café coado é vendido por 68% dos estabelecimentos que participaram do levantamento, sendo que as regiões Sudeste e Nordeste são as que mais consomem café coado, com 64% e 63% das respostas, respectivamente.
Novo mercado do café coado
Em meio a esse cenário de aumento do consumo nacional de café coado nos últimos anos, surgiu um novo mercado do produto por meio de processo de sofisticação na forma do preparo e consumo da bebida.
Segundo Paulo Ricardo Lima Alves, Diretor Comercial da Flavors, empresa brasileira referência nos segmentos de produtos e tendências para cafeterias, coquetelaria e food service, atualmente, a forma de consumir café coado por parte dos brasileiros é outra. “Há sete anos, a Flavors iniciou um movimento pioneiro de difusão dos métodos de café coado no Brasil. Em parceria com as cafeterias, contribuímos com a chegada da terceira onda da bebida no país – aquela que popularizou a experiência do preparo e o consumo de cafés especiais. Antes disso, vivenciamos o domínio do café expresso, ainda bastante presente nos dias de hoje e, no âmbito doméstico, o café preparado no coador de pano ou papel, como faziam nossos pais e avós. A versatilidade e as inúmeras possibilidades de customização do café nos métodos coados caíram no gosto das novas gerações. Além de apreciarem a bebida, os jovens se interessam pelas diferentes maneiras de prepará-la”, destaca o Diretor Comercial.
Paulo ressalta também que “um fato interessante nesta terceira onda do café é que, no início e até pouco tempo, o preparo nos métodos estava represado nas cafeterias. Se você queria tomar o café feito em um método diferente, precisava ir até à cafeteria. Agora, principalmente neste momento de pandemia de Covid-19, as pessoas estão levando os métodos para casa. Graças a essa mudança, muitas cafeterias não foram afetadas pela pandemia. Perderam o fluxo de pessoas dentro do estabelecimento, mas estão ganhando ao venderem os produtos e utensílios para o preparo em casa. Esse deve ser o raciocínio agora, de funcionar como célula multiplicadora do uso dos métodos”, aconselha.
Para Deiverson Migliatti, fundador da rede de cafés especiais Sterna Café, “cada vez mais, o público tem buscado qualidade no que consome e o café deixou de ser um simples cafezinho tomado durante o dia, em uma simples garrafa térmica ou até mesmo um expresso mal tirado. As pessoas estão buscando por experiências únicas de aroma e sabores que os diferentes métodos de extração podem trazer em uma xícara. E o café coado, pela variedade de sabores de um único grão que pode ser obtida em cada tipo de extração nos diferentes métodos, traz essa experiência única, beleza e sofisticação em cada xícara, que pode ser preparada individualmente. O café coado faz parte da tradição do brasileiro e traz o chamado ‘comfort food’, pois lembra o café da família, da casa da mãe ou da avó, que traz aquele carinho no coração”, enfatiza.
Segundo Migliatti, o mercado de café coado “está em plena ascensão, mesmo em época de pandemia. Por causa do confinamento, não é possível, muitas vezes, se tomar o expresso e as pessoas estão adquirindo equipamentos e grãos especiais para fazer seu próprio coadinho em casa”, explica.
Diferenciais do café coado
Para Alves, da Flavors, não é por acaso que o café coado é o atual ‘queridinho dos brasileiros’. “O café coado possibilita que você escolha o método de sua preferência, que resultará em uma bebida mais forte ou mais suave, com mais ou menos óleos e sabor mais ou menos ácido. São muitas variáveis e, por isso, hoje, o café coado atinge um espectro muito amplo de consumidores. Já há alguns anos, teve início uma forte expansão do universo de torrefadores, produzindo com know how e qualidade para atender a essa demanda. O mercado brasileiro começou a exigir. Então, houve a perfeita união entre: o desenvolvimento dos métodos de preparo, os torrefadores no plantio, colheita e torra. E esse entendimento do consumidor na busca do bom café”, contextualiza.
O Diretor Comercial da Flavors complementa que “a história do Brasil gira em torno do plantio de café. Mas, o café era produzido para ser exportado. Atualmente, existe o consenso de que o país tem um mercado consumidor exigente e em expansão para cafés especiais. A importação de grãos verdes é proibida no país. Nesse caso, a proteção do mercado foi positiva e tem apresentado bons resultados. Não temos café de outros países. Porém, temos uma diversidade nacional muito grande e com qualidade cada vez melhor. Em pesquisa recente, 90% dos consumidores declararam que o café é um item que não pode faltar na sua rotina. E o universo de cafés coados também atinge 90% da nossa população. Ou seja, o café coado não é uma tendência, é uma realidade”, afirma.
Paulo revela ainda que a chegada do café coado nas cafeterias brasileiras é outra grande diferenciação da bebida nos últimos anos, assim como a sua experiência de consumo em relação ao tradicional cafezinho diário. “Criou-se na cafeteria toda uma ambientação para servir o café, com todo o glamour de tudo o que gira em torno da bebida. Eu costumo dizer que na cafeteria se toma o café ‘feito pra você’. Fazendo uma analogia, é como quando vamos a um bar e pedimos ao bartender que prepare um coquetel para nós. Na cafeteria, o barista vai preparar o café do jeito que você gosta, no seu método preferido, em sintonia com o seu perfil”, recomenda.
Como preparar um café coado?
O café coado também apresenta seus diferenciais em relação ao seu modo de preparo. De acordo com Migliatti, da Sterna Café, “para um bom café coado, são necessários os métodos popularmente chamados de coadores ou filtros, uma chaleira elétrica e, se possível, um moinho, pois o grão moído oxida e muda o sabor rapidamente. E claro um grão de qualidade”, pontua.
Paulo, da Flavors, avalia que a produção de um bom café coado está diretamente ligada ao uso de utensílios. “Como o próprio nome diz, o café coado é aquele que passa por um filtro (coador) de papel ou tecido (V60, Chemex, Aeropress, Cone Coffee). Então, utensílios e café de qualidade já garantem um ótimo resultado final. Mas, se preparado por profissionais, claro, a bebida ganha novas nuances, temos um upgrade, uma experiência única. Os métodos de preparo de café coado trouxeram para o mercado algo que não existia, que é a capacidade de qualquer um identificar os diferentes sabores do café. Se você preparar três expressos com três cafés diferentes, dificilmente, alguém que não é especialista perceberá a diferença entre eles. Mas, se você preparar o mesmo café em três métodos diferentes, facilmente, conseguirá perceber três sabores e aromas distintos. Então, você pode ter o método de sua preferência. A escolha do método também pode variar de acordo com o seu momento, o seu desejo, a sua disposição. No café coado, o elemento humano é um fator decisivo. Na cafeteria, o barista, que é especialista, pode fazer ajustes rápidos a cada preparo, dependendo do grão do café. Ele modula o tempo de extração, a quantidade de água e de pó, de acordo com as características do café e as preferências do cliente, criando uma experiência única e exclusiva”, garante.
O Diretor Comercial também chama a atenção sobre a importância do amante de café coado adquirir tais utensílios e acessórios “de boa procedência, de marcas conhecidas, com garantia e certificados pelos órgãos competentes. O mercado tem sido bombardeado por produtos de segunda linha. Isso é um problema muito sério e preocupante. Além de colocar em risco a segurança e a saúde das pessoas, pois estamos falando de utensílios do setor alimentício, prejudica enormemente as empresas que trabalham de forma correta, obedecendo às normas e à legislação vigente. É uma concorrência desleal, uma propaganda enganosa, que vende a ideia de que um produto aparentemente similar ao original oferece a mesma qualidade. Paga-se menos, mas, se algum problema ocorrer, e vai ocorrer, não há garantia, nem a quem reclamar, pois esses vendedores sequer divulgam um telefone ou endereço em seus sites de venda. Pela nossa experiência na Flavors, que traz para o Brasil as principais marcas de utensílios e acessórios para o preparo de cafés filtrados, o best seller é o método Hario V60, seja em sua versão acrílico, vidro ou cerâmica. Os produtos da Chemex e da Bodum também são muito apreciados pelos coffee lovers e profissionais da área”, indica.
O futuro do café coado
Para Paulo, da Flavors, o futuro do café coado é promissor, pois “ainda há muito o que explorar nesse nicho. A quarta onda será a dos equipamentos que preparam o café filtrado automaticamente, com um apertar de botão. A máquina faz o fluxo contínuo de água, o movimento circular, e você pode selecionar as suas preferências. Em outros países, já é costume torrar o café em casa, o que ainda não ocorre aqui. Mas, já temos os cafés moídos, preparados e sendo consumidos imediatamente. É um mundo ilimitado. O café coado amplia, cada vez mais, as formas de preparo e de consumo. Temos espaço para todos os formatos, tanto para o café na garrafa térmica, presente nos escritórios, que não vai desaparecer, quanto para o café preparado em uma Hario V60, que se consome logo após o preparo”, prevê.
Migliatti, da Sterna Café, por sua vez, avalia que vale a pena investir no mercado de café coado, uma vez que “o café especial, que é perfeito para o café coado, tem ganhado destaque no mercado interno, porém tanto o seu cultivo, quanto a sua colheita, que é manual, requerem maiores cuidados e isso acaba gerando um valor maior que o café comum. Mas, a sua qualidade e sabores são infinitamente superiores! Portanto, o investimento nesse mercado vale a pena, pois a ideia é a de democratizar o café especial, como foi feito com a cerveja artesanal, que, mesmo com valor mais alto, caiu no gosto do brasileiro. Estamos no caminho de levar o conhecimento do café especial a um maior número de pessoas possível, despertando a curiosidade e refinando o paladar para o café”, acredita.
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