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Descarte incorreto de máscaras de proteção contra o Covid-19 pode causar danos ambientais

Equipamento de desinfecção e serviço de coleta especializada de máscaras já estão disponíveis no mercado

O avanço da pandemia de Covid-19 tem causado turbulência nas economias e nos mercados de todo o mundo. Nesse cenário de crise, o setor food service vem sendo um dos mais afetados, já que a ida a restaurantes, bares e lanchonetes durante o período de isolamento social não é recomendada e, em muitas cidades, até proibida pelas autoridades locais. No entanto, a doença não vem trazendo apenas problemas sociais e econômicos. Danos ambientais decorrentes do descarte incorreto de máscaras de proteção contra o novo Coronavírus já é uma triste realidade, que também precisa ser levada em consideração nos planos de adaptação e volta das atividades dos estabelecimentos de comida fora do lar por parte dos empresários desse ramo.

 

Em Hong Kong, na China, por exemplo, Gary Stokes, fundador do grupo ambientalista Oceans Asia, encontrou juntamente com sua equipe dezenas de máscaras descartadas incorretamente em um trecho de praia em Soko, um pequeno grupo de ilhas localizadas na costa Sudoeste da ilha de Lantau. Em entrevista a sites internacionais, ele afirmou que, ao todo, foram recolhidas 70 máscaras descartadas a 100 metros da praia e outras 30 máscaras quando voltaram ao mesmo local uma semana depois. Além disso, Stokes e seu colegas constataram que as máscaras não eram tão antigas e, inclusive, algumas pareciam quase novas. Fato esse que foi compartilhado nas mídias sociais do grupo ambientalista e que serviu de alerta sobre como o novo hábito e obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção contra o Covid-19 precisa de uma atenção especial.

 

De acordo com Talita Martins Oliveira, Mestre em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável e Engenheira Ambiental com ampla atuação em gestão de resíduos de grandes empresas e projetos, “em momentos de crise, como a pandemia atual, os impactos ambientais devem ser considerados e reavaliados sejam eles positivos ou negativos. O trabalho remoto vem reduzindo a emissão de poluentes nas cidades e otimizando a utilização dos recursos naturais. Em detrimento a isso, temos uma quantidade maior de resíduos sólidos domiciliares e infectantes sendo gerados, como é o caso do descarte das máscaras utilizadas para a prevenção do Covid-19. As máscaras descartáveis, por exemplo, apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, sendo consideradas resíduos do Grupo A, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos e Resolução RDC Anvisa 222/2018. Portanto, a fim de minimizar os impactos ambientais sem causar danos ou riscos à saúde pública, essas máscaras precisam serem acondicionadas seguindo normas técnicas e enviadas para tratamento adequado por meio de empresas devidamente licenciadas, conforme previsto na legislação. Assim, recomenda-se às empresas que optem pelo coprocessamento para evitar que as máscaras sejam levadas ao aterro e possa ter rastreabilidade completa do seu destino. Além disso, sugere-se a utilização de máscaras com tecidos laváveis para que possa ser reduzida a geração de resíduos, um dos princípios mais importantes do gerenciamento dos resíduos sólidos que corroboram com a sustentabilidade ambiental”, salienta.

Talita Martins Oliveira

 

Grasiela Andrade Hoffmann, Economista e Secretária Executiva da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), complementa que “o descarte incorreto de qualquer material gera impacto. Quando esse material não é degradável o impacto é maior, tratando-se ainda de material que pode ter contaminação. A contaminação pode ocorrer de diversas formas. Pode ser por absorção do solo para a água subterrânea, adsorção dos contaminantes nas raízes de plantas, verduras e legumes, escoamento superficial para a água superficial, inalação de vapores, contato dermal com o solo e ingestão do mesmo por seres humanos e animais. A maneira mais eficaz de poupar o meio ambiente de danos é promover a correta separação dos resíduos e, assim, reciclar o que for possível. A máscara jogada fora de qualquer jeito pode colocar em risco à vida de trabalhadores que manuseiam esse material na hora da coleta. Mesmo usando equipamentos de proteção, se eles encostarem numa máscara contaminada e levarem a mão ao rosto, podem ser infectados pelo Covid-19”, alerta.

Grasiela Andrade Hoffmann

Hoffmann orienta ainda que “a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o descarte da máscara após o uso. O descarte correto das máscaras corresponde à retirada com ambas as mãos, descarte em saco plástico, que deve ser fechado em seguida. A pessoa deve lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool 70%. Descartar o saco plástico no lixo, após guardar o mesmo por 46 horas para inativar o vírus e proteger o pessoal que recolhe o lixo e também o meio ambiente. Ao contrário das máscaras descartáveis, as de tecido podem ser lavadas e reutilizadas regularmente. Entretanto, a Anvisa recomenda evitar mais que 30 lavagens. A máscara de pano deve ser descartada sempre que for observada a perda da elasticidade das hastes de fixação ou deformidade no tecido que possam causar prejuízos à barreira. As máscaras de TNT não podem ser reutilizadas e sempre devem ser descartadas após o uso. Como as máscaras descartáveis são compostas por diferentes materiais, um deles o plástico, que pode levar até 400 anos para se decompor. Deve-se fazer o descarte de acordo com a recomendações do fabricante e da Anvisa. As máscaras de tecido sintético podem levar de 100 a 300 anos para se decompor, já as de TNT a decomposição é de 6 meses a 1 ano”, ressalta.

 

Como poupar o meio ambiente e garantir a segurança dos alimentos?

O uso de máscaras e a segurança dos alimentos já vem sendo bastante discutido por algumas associações relacionadas ao mercado food service com o intuito de auxiliar os empresários em um momento tão inesperado e incerto. A Associação Nacional de Restaurantes (ANR) até criou um manual para auxiliar donos de bares, restaurantes e similares a abrir as portas com segurança após a pandemia. O conteúdo tem a participação de consultores da Anvisa, do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo e profissionais de empresas de pequeno, médio e grande porte com expertise nos mais diversos serviços, como alimentação rápida, completa e buffets. Além disso, seu primeiro tópico é intitulado de ‘Boas Práticas Uso de Máscaras’, em que há recomendações completas sobre uso, descarte e a higienização correta dos diferentes tipos de máscaras e protetores faciais para todos os profissionais do setor food service, englobando os de cozinha, salão e delivery. Porém, o manual não traz discussões sobre como é possível, ao mesmo tempo, garantir a segurança dos alimentos e preservar o meio ambiente por meio da adoção do descarte correto das máscaras de proteção contra o Covid-19, sejam elas descartáveis, de tecido e/ou TNT.

 

A empresa Panozon Ambiental, por sua vez, criou um equipamento de desinfecção de máscaras descartáveis, que já obteve um laudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprovando a sua eficácia. Carlos Heise, Engenheiro Eletricista e CEO da Panozon Ambiental, detalha que “nosso equipamento, chamado Panozon O3Care M50, trata-se de uma câmara vedada, hermética, onde o gás ozônio é liberado para fazer desinfecção de máscaras, EPI’s e qualquer material não oxidável. A Panozon já está há 20 anos no mercado de ozônio. Então, já tínhamos a tecnologia e o conhecimento necessários. Nós adaptamos um outro equipamento nosso já presente no mercado nacional, utilizado para remover odores e fazer higienização de carros e ambientes (como quartos de hoteis), e desenvolvemos o O3Care M50. O Panozon O3Care M50 funciona de forma simples: você conecta o equipamento na energia elétrica, coloca os objetos a serem desinfectados dentro da câmara (por exemplo, máscaras cirúrgicas descartáveis) e liga. O equipamento tem um timer de 1 hora e, após a finalização do ciclo, ele mesmo ‘destrói’ o ozônio residual para que possamos abrir a câmara sem ter o cheiro de ozônio no ambiente. O tratamento com ozônio gera como subproduto apenas oxigênio puro. O ozônio é produzido a partir do oxigênio presente no ar ambiente e, em pouco tempo, ele volta à molécula inicial. Ou seja, é extremamente ecológico”, garante.

Carlos Heise

Heise conta também que, “embora hoje estejamos vendo diversas aplicações para esse equipamento, inicialmente, o desenvolvemos apenas pensando na reutilização de máscaras descartáveis. Mas, atualmente, por causa da pandemia instaurada globalmente, hospitais e clínicas estão fazendo uso intensivo de máscaras que devem ser trocadas a cada poucas horas. Ou seja, todas essas máscaras utilizadas acabam virando lixo hospitalar. Na melhor das hipóteses, se descartado corretamente, esse lixo hospitalar será incinerado. Na pior das hipóteses, essas máscaras irão parar nos nossos lixos recicláveis ou poluir o meio ambiente, como já está acontecendo no Brasil e em praias na China, respectivamente. O O3Care M50 funciona como uma ‘autoclave sem aquecimento’. Ou seja, todo tipo de material (que não seja oxidável) que não pode ser esterilizado em uma autoclave por causa da alta temperatura e umidade, pode ser desinfetado utilizando nosso equipamento”, afirma.

Panozon O3Care M50

 

Serviço de coletas especializadas também é uma solução!

Além do uso de equipamentos de desinfecção, como o já oferecido pela empresa Panozon Ambiental, outra alternativa para que os empresários do ramo food service consigam conciliar a proteção dos seus funcionários e clientes, a segurança dos alimentos e a preservação do meio ambiente em tempos de pandemia como os atuais é a contratação de serviço de coletas especializadas das máscaras.

 

Fernando Perrini Daruge é formado em Ciências Econômicas e Diretor da FENIX Soluções Ambientais, empresa especializada na gestão total de resíduos industriais. “Coletamos, gerenciamos e destinamos todos os tipos de resíduos gerados pelos mais variados segmentos da indústria que atendemos: indústrias químicas, automotivas, alimentícias, de embalagens, de fertilizantes, agroindústrias em geral, entre outras”, como ele mesmo detalha.

 

Fernando Perrini Daruge

Segundo Daruge, “a grande importância do descarte especializado não se deve majoritariamente ao potencial poluidor das máscaras em si e dos materiais que a compõem. O potencial poluidor seria semelhante ao de um tecido qualquer. Porém, em época de pandemia, a razão primordial para tanto zelo é devido aos riscos à saúde pública. Se não houver cuidados especiais, a máscara pode deixar de ser uma ferramenta de contenção da transmissão para se tornar uma fonte de disseminação do vírus. Nós fizemos um amplo estudo junto às autoridades sanitárias e de saúde nacionais, estaduais e municipais, para nos inteirar das recomendações oficiais. E, com base nisso, criamos um material informativo que estamos distribuindo gratuitamente às empresas que tiverem interesse no nosso serviço especializado de coleta de máscaras. O material aborda sucintamente os cuidados que as pessoas devem ter no manuseio, utilização e descarte das máscaras. Também criamos placas e adesivos de comunicação visual, que podem ser utilizados pelas empresas para orientar as ações de seus colaboradores. O objetivo é ajudar com que as empresas que precisam voltar a produzir, possam fazer isso com segurança!  A FENIX é especializada na gestão total de resíduos industriais. Temos uma filosofia de que nós não devemos nos limitar a ser apenas produtos do meio. Nós devemos ser agentes ativos da transformação! Com esse espírito, vendo nossos clientes tendo de enfrentar tantos novos desafios, decidimos que o descarte de máscaras não será uma preocupação a mais para eles. Eles poderão se focar em encontrar soluções para os outros tantos problemas, que nós cuidaremos disso com segurança. Precisamos que eles estejam saudáveis e seguros para produzir”, argumenta.

 

O Diretor da FENIX Soluções Ambientais explica ainda que “ainda não há uma legislação específica que aborde o descarte de máscaras não-profissionais (essas que utilizamos para nos proteger durante a pandemia). Certamente, a geração desse tipo de resíduo nunca foi tão grande. Isso é algo muito recente e é provável que, em breve, teremos alguma coisa. O fato é que esse resíduo se difere do lixo hospitalar, onde se encontram diversas substâncias que carregam alto grau de risco à saúde e ao ambiente, e que há legislações específicas. É bom salientar que, nesta época de pandemia, o Ministério da Saúde vem produzindo constantemente novas cartilhas com orientações dirigidas aos profissionais da saúde e também ao público geral. Devemos estar sempre atentos e atualizados. Em suma, não há mudanças significativas entre o descarte de máscaras descartáveis e de tecido. O que é mais importante ressaltar é que, em nenhuma circunstância, as máscaras devem ser enviadas para a reciclagem, sob risco de contaminação dos profissionais envolvidos nessa cadeia. Também destacamos que as máscaras de profissionais de saúde não podem ser misturadas àquelas utilizadas no dia a dia por pessoas comuns. Recomendamos a todos que higienizem as mãos antes e depois do manuseio das máscaras, procurando tocar apenas nas alças. Antes de descartá-las, é importante que sejam acondicionadas dentro de sacos plásticos. Nesse ato, evitem tocar nos coletores dedicados às máscaras. Para as empresas, orientem sempre seus funcionários e busquem uma coleta especializada para as máscaras utilizadas pelos seus colaboradores, que deve ser segregada do reciclável e do lixo comum”, recomenda.

 

Quer saber mais sobre práticas e exemplos de negócios que atendem às premissas de sustentabilidade? Então, continue acessando a editoria Sustenfood da Rede Food Service, onde o crescimento do mercado de alimentação fora do lar e a preservação do meio ambiente andam lado a lado.

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