Famosa pelos brownies da caixinha azul, a chef Heloisa Monteiro da Silva, está há mais de 30 anos à frente da Helô Doces. Sua trajetória é cheia de histórias e aprendizados, como ela mesma enfatiza: “tudo com muita dedicação e carinho”.
Essa grande chef compartilhou um pouco da sua experiência no ramo de alimentação fora do lar em um bate papo com a Rede Food Service. Confira:
RFS: Como surgiu a Helô doces?
Helô: Foi criada há mais de 30 anos. Sempre gostei de cozinhar e sempre fui muito “formiga”, então o que eu mais gostava era de fazer doces.
Comecei a trabalhar com um primo meu, o Charlô Whately, fazendo patês. Nós fomos indo aos poucos, abrindo uma cozinha ali, aqui e finalmente eu resolvi ficar sozinha fazendo os doces. Eu que criava os doces, porque sempre fui muito ligada no açúcar. E assim fui, e a Helô Doces tem mais de 30 anos e foi criada com muita dedicação, muita paciência, muito amor e é a minha vida.
RFS: O carro-chefe de vocês é o brownie, como foi criada a receita?
Helô: Costumo dizer que eu fui muito iluminada quando desenvolvi essa receita. A minha irmã foi morar na Inglaterra e fazia brownies por lá. Ela trouxe a receita e eu fui modificando, desenvolvendo e, graças a Deus, até hoje, faço os brownies, como disse com muito amor e dedicação. Sempre com a mesma receita, os mesmos ingredientes, desde sempre nunca mudei absolutamente nada da receita, inclusive o chocolate. Mas imagina há 30 anos atrás não tínhamos muita escolha, mas realmente não posso mudar nada, em time que está ganhando a gente não mexe.
Criei o brownie da caixinha azul e na época as pessoas falavam que o azul não é uma cor de vender alimentos, mas eu gosto do azul e ficou assim. Hoje em dia, carinhosamente, eu chamo e as pessoas também de brownie da caixinha azul.
RFS: Tem algum fato curioso/interessante da sua trajetória que queira contar?
Helô: Durante todos esses anos, 30 anos ou até mais talvez, de dedicação tenho muitas histórias para contar.
A que mais me marcou foi um casamento. A pessoa ia casar e a gente fazia um bolo de andares e meu motorista foi levar e eu o avisei para ir pelo caminho reto, ele foi por uma subida e o que aconteceu? O bolo despencou e desmanchou. Ele [motorista] voltou para a Helô Doces e eu fiquei desesperada, não dá nem para imaginar. Mas eu tinha outro bolo para conseguir concertar, tinha outra renda para colocar, pois usávamos renda de tecido na época para decorar os bolos e eu consegui levar o bolo intacto para a cliente. A partir daquele dia eu disse que nunca mais faria bolo para levar em casamento, esse tipo de bolo é muita responsabilidade.
RFS: Nesses mais de 30 anos, quais foram os principais desafios?
Helô: Temos desafios todos os dias, todos os momentos, sempre! Seja dentro de um comércio ou principalmente quando se trabalha com comida, tem muitos desafios.
Acho que o maior dentro do que a gente faz é conseguir manter a qualidade, o sabor, a aparência, manter o produto intacto para o cliente comprar e ficar satisfeito. Talvez esse seja o maior desafio, não sei, mas se me perguntar hoje dê repente estou tendo vários desafios, ainda mais que estamos em um momento totalmente maluco com essa crise e é mais um desafio, pois estou fazendo coisas que eu não fazia mais.
RFS: Hoje, com o conhecimento que você tem de mercado, teria mudado algo na sua trajetória?
Helô: Acho que não, porque na verdade quando comecei a trabalhar nem existia esse mercado. Fui aprendendo com o tempo, praticamente autodidata, fui crescendo e nunca dei um passo maior que a perna.
Quando, por exemplo, eu fornecia para uma empresa, eu precisava ter uma estrutura um pouco diferente da que eu tenho. Fui me adaptando, comprei apenas o básico necessário e demos conta. Quando rompemos aquele casamento, como costumo dizer, não tinha investido tanto quanto teria pensado por conta daquele momento. Para você recuperar não é tão fácil, é outro desafio. Quando perdi esse contrato, achei que a Helô Doces ia passar por grandes dificuldades, mas não foi assim. Nosso negócio foi evoluindo e ganhamos outros clientes.
RFS: Além da confeitaria, você também tem aulas no seu espaço. Conte um pouco mais da história da escola de gastronomia para crianças.
Helô: A escola, costumo dizer, que é a menina dos meus olhos. Mas infelizmente com essa crise começamos a diminuir as aulas, porque estava caro para as mães pagarem e o modelo que eu faço de aula, não é nada barato. Por exemplo, uma professora consegue no máximo 5 crianças e para conseguir gerar todo o custo dessa produção é muito complicado, então nessa crise está praticamente inviável.
Aqui na escola tanto criança quanto adulto todo mundo cozinha, pois o mais importante para aprender é colocar a mão na massa, pois só assistindo não vai aprender nada. Então a pessoa bota a mão na massa e leva o resultado para casa daquilo que ela mesmo produziu. Isso é muito gratificante tanto para as crianças como para os adultos, que nessa hora parecem crianças grandes.
RFS: Para quem pensa em abrir o próprio negócio nesse ramo, que dica você daria?
Helô: Não sou uma pessoa, como disse, otimista. Acho que alguém que vai abrir um negócio no ramo de alimentação tem que começar bem pequenininho, com o pé no chão, não querendo abrir um negócio enorme, mas depende também, pois o mercado mudou muito. Vejo como eu cresci e hoje em dia as coisas são diferentes, as pessoas vão procurar investidores e quem vai buscar por investidores o caminho é outro de quem quer começar sozinho, e para esse acho que a dica é não investir todo seu dinheiro no negócio, pois não é fácil.
Alimentação não são todos que sobrevivem, você tem que ter uma dedicação enorme, posso dizer que é 24h por dia. Você não pode delegar o seu negócio para outra pessoa, tem que estar na linha de frente e ver todo dia, ficar em cima dos funcionários e sempre buscar não errar. Você não pode errar com o cliente, porque o cliente satisfeito é aquele que volta, que fala bem de você, então não pode errar nem no atendimento e nem com o produto que vai vender.